Dois
movimentos são protagonizados por toda uma série de professores da rede básica
pública de ensino. São duas ações, que embora pareçam aparentemente contrárias,
são motivadas por razões bastante parecidas.
O
primeiro dos dois movimentos é a desistência. Ela é motivada substancialmente
por quem não suportou a carga, o peso do fardo que recai sobre os ombros dos
trabalhadores da educação básica pública. Estão relacionados a este movimento
os baixíssimos salários, as precárias condições de trabalho, a ausência de
efetivas políticas públicas de formação continuada, de qualificação e
valorização profissional. Toda esta série de fatores contribui, e por vezes
define, a desistência de muitos professores de sua profissão.
Já
a persistência, é protagonizada pelos que insistem em se manter na docência,
por um ideal de vida ou por necessidade de sobrevivência, a despeito de todas
as contrariedades. Ela é protagonizada por trabalhadores que buscam na
profissão de professor realizar um trabalho verdadeiramente educativo,
edificante, realizador de sua própria condição humana, bem como de todos os
sujeitos que compõe a comunidade escolar e também de toda a sociedade.
No
entanto, muitos deles mantêm-se no cargo realizando tarefas mecânicas, repetitivas,
que nada constroem e a nada se propõem. Estes não desistem, mas apenas cumprem
horários e programas previa e externamente determinados, sem realizar, para
tanto, uma análise crítica e uma reflexão a respeito de seu trabalho e de sua
formação. Procrastinam, protelam, repetem ações automaticamente apenas para
manterem-se no emprego.
Como demonstrou o estudo da pesquisadora Andréa Caldas da Federal do Paraná, são
exatamente os que não se sujeitam ao ambiente muitas vezes deletério da
educação básica pública, que buscam constantemente qualificação e valorização
profissional, e com isto realizar uma persistência real, engajada
politicamente, qualificada pedagogicamente, os que acabam por desistir dela.
Neste caso, a desistência torna-se a expressão do fracasso de quem mais
resistiu, de quem mais envolveu-se com todo o processo, depositando em seu
trabalho todo seu tempo, sua energia, e sua própria vida.
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