sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Persistir ou desistir




Dois movimentos são protagonizados por toda uma série de professores da rede básica pública de ensino. São duas ações, que embora pareçam aparentemente contrárias, são motivadas por razões bastante parecidas.
O primeiro dos dois movimentos é a desistência. Ela é motivada substancialmente por quem não suportou a carga, o peso do fardo que recai sobre os ombros dos trabalhadores da educação básica pública. Estão relacionados a este movimento os baixíssimos salários, as precárias condições de trabalho, a ausência de efetivas políticas públicas de formação continuada, de qualificação e valorização profissional. Toda esta série de fatores contribui, e por vezes define, a desistência de muitos professores de sua profissão.
Já a persistência, é protagonizada pelos que insistem em se manter na docência, por um ideal de vida ou por necessidade de sobrevivência, a despeito de todas as contrariedades. Ela é protagonizada por trabalhadores que buscam na profissão de professor realizar um trabalho verdadeiramente educativo, edificante, realizador de sua própria condição humana, bem como de todos os sujeitos que compõe a comunidade escolar e também de toda a sociedade.
No entanto, muitos deles mantêm-se no cargo realizando tarefas mecânicas, repetitivas, que nada constroem e a nada se propõem. Estes não desistem, mas apenas cumprem horários e programas previa e externamente determinados, sem realizar, para tanto, uma análise crítica e uma reflexão a respeito de seu trabalho e de sua formação. Procrastinam, protelam, repetem ações automaticamente apenas para manterem-se no emprego.
Como demonstrou o estudo da pesquisadora Andréa Caldas da Federal do Paraná, são exatamente os que não se sujeitam ao ambiente muitas vezes deletério da educação básica pública, que buscam constantemente qualificação e valorização profissional, e com isto realizar uma persistência real, engajada politicamente, qualificada pedagogicamente, os que acabam por desistir dela. Neste caso, a desistência torna-se a expressão do fracasso de quem mais resistiu, de quem mais envolveu-se com todo o processo, depositando em seu trabalho todo seu tempo, sua energia, e sua própria vida.

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