sábado, 19 de setembro de 2015

Autonomia dos professores




Em todo o mundo os teóricos da educação concordam que a autonomia é um valor imprescindível para o trabalho dos professores. Entretanto, os atuais modelos empresariais de gestão em educação, tem interferido negativamente neste trabalho, restringindo não só a atuação docente, como também toda a lógica político-pedagógica da educação.
Quando a lógica privatista passa a medear e gerir o trabalho docente instaura-se uma relação perversa que possui em uma de suas pontas, um cada vez mais empoderado aluno-cliente; na outra, uma empresa cujo produto é a formação apenas de sujeitos para atender ao mercado; e no meio, os professores, ceifados de sua capacidade inventiva, de sua autonomia e de sua liberdade.
Restringir a educação a esse caráter mercadológico é privá-la de sua essência. O que devem ser a universidade e a escola senão espaços essencialmente políticos, questionadores e críticos justamente dos saberes pasteurizados, recortados, prontos e determinados arbitrariamente? Os trabalhadores em educação reiteram que mesmo a escola e a universidade privadas, devem estar comprometidas em construir uma sociedade realmente plural e democrática. Nas instituições comunitárias e confessionais, outro dado: embora seus discursos sejam ainda pautados por princípios éticos e agendas humanitárias, suas práticas estão corroídas pela imoralidade do capital.
Convém ainda lembrar que a educação é antes um direito de todos e um dever do Estado e sob nenhuma condição deve ser gerida ou concebida sob a lógica do grande capital ou de uma ideologia liberal e conservadora, avessa por sua vez, à agenda dos direitos humanos, alheia à pauta dos movimentos sociais, das suas reivindicações, e suas implicações na construção da cidadania.
Dentro deste contexto, podemos afirmar que vivemos em um tempo onde lamentavelmente o valor do conhecimento tem sido mensurado pelo seu valor no mercado. E a mais imediata consequência disto é a interferência que os professores sofrem dos seus gestores sobre seu trabalho, com o objetivo de atender aos desejos da lógica clientelista. O ensino assim pensado e gerido sob a lógica mercantilizada, acarreta uma perda gradativa e crescente de sua autonomia, de seu protagonismo e de sua liberdade.

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

As religiões, o bem e o mal




Ouvi recentemente um amigo defender a tese de que uma religião carrega em si o bem. Toda vez que uma religião, em nome dele, propugnasse o mal, não seria mais uma religião. Dessa forma, todas as religiões, independente de quais sejam, seriam a expressão do bem.
Esta tese está na base do ecumenismo sem critérios que campeia no imaginário da nossa sociedade pretensamente laica. No entanto ela carrega uma falsa premissa. Na verdade, toda religião é a expressão moral de um grupo, de uma sociedade ou de uma civilização. Portanto, ela expressa uma cosmovisão parcial, excludente e convenientemente situada. Se ela expressa o bem, o faz expressando aquilo que os seus seguidores acreditam; excluindo, segregando, todos aqueles que dela desacreditam. 
É com base nesse tipo de argumentos falaciosos e também distorcendo um debate consolidado há muito tempo não só no Brasil como em todo o mundo, que grupos religiosos têm recorrentemente sabotado o princípio da laicidade do Estado. Questões como a sexualidade, o aborto e as drogas são tratadas como a representação do mal. Agindo assim, tem tencionado contrariamente ao reconhecimento da dignidade humana de grupos historicamente excluídos e de seu direito fundamental à cidadania.
Seu contrário, a negação de qualquer pertencimento religioso, muitas vezes visto como a expressão do perigo e do mal, é na verdade a que mais se aproxima de uma expressão não excludente, não fracionada do mundo. Possuir a liberdade de não se vincular a uma visão particular de mundo é assumir que o bem é um valor universal, e jamais poderá ser vinculado a qualquer visão particular de mundo.
As religiões, portanto, não são a expressão do bem como quer a tese do meu amigo, mas inversamente, são a capitulação da nossa civilização de possuir uma visão global do que seja o bem e o mal. Ser religioso não é um atestado de bondade nem um salvo conduto para a moralidade, mas uma maneira de impor a noção de que a verdade de uns, pode ou deve ser o bem de todos.