quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Nova educação




Tenho acompanhado com atenção as dificuldades enfrentadas pelas escolas nesse início de ano letivo, mostradas pelos meios de comunicação, e como isso tem refletido na opinião pública em geral. As reportagens dão conta de um panorama bastante crítico em que faltam professores, a estrutura física das escolas públicas carece de ampliação e reparos e tudo isso se reflete na aprendizagem dos alunos. Os coordenadores pedagógicos respondem à comunidade que juntam turmas, mudam formas de avaliações, intercambiam professores de diferentes disciplinas, na tentativa de atender a uma “nova maneira” de fazer educação.
Um bom exemplo dessa maneira inovadora do fazer educacional pode ser conhecido na Escola da Ponte, na comunidade de Vila das Aves, em Santo Tirso, Portugal. Lá, o professor José Pacheco iniciou em 1976 uma ampla e verdadeira ruptura com o modelo atual hegemônico de fazer educação, com saberes engavetados em disciplinas, com alunos separados em salas e em fileiras. Turmas e séries separadas por idade e fases de aprendizagem, com professores que nada ou pouco sabem do que o colega da outra disciplina ensina. Na Escola há três núcleos de aprendizagem: o de iniciação; o de consolidação; e o de aprofundamento. Em cada um deles, vários professores acompanham os alunos, que trabalham sozinhos ou em grupos, dependendo do grau de autonomia de cada um.
A Escola da Ponte foi a primeira escola pública do mundo a ter um “contrato de autonomia”, rompendo com o que chamaram de fundamentalismo pedagógico do sistema público de ensino. Desde 2004 os alunos da Escola da Ponte aparecem entre os mais bem colocados nas Provas Globais, que são os testes educacionais portugueses similares, grosso modo, aos vestibulares e provas do ENEM brasileiros.
A referida escola recebe jovens egressos de outras escolas que evadiram por problemas de comportamento, crianças com síndrome de down, paralisia cerebral, ou com outras características que costumamos chamar de “deficiências”. Menciona o professor que lá não há dificuldades de aprendizagem, mas sim dificuldade de ensinagem. Ou seja, o que deve haver é uma adequação na maneira de ensinar que acompanhe e dê conta da multiplicidade infinita das formas de aprender. Dessa forma, não há “deficientes”, pelo menos da forma como costumamos chamar. Para o professor José Pacheco, deficientes então, são as mentalidades e as práticas e não os sujeitos. Quando me dirijo a uma criança surda e não consigo me comunicar com ela, o deficiente neste caso sou eu que desconheço a linguagem dela e, portanto não consigo me comunicar com ela.
Sendo assim, percebe-se que juntar turmas com um professor só, ou mesmo agrupar várias disciplinas formado uma “grande área”, não é suficiente para construir uma nova educação. Esse objetivo só pode ser alcançado, de fato, valorizando os sujeitos, investindo em formação e condições de trabalho, muito mais do que fazendo coisas novas para solucionar velhos problemas.

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