Tenho acompanhado com atenção as
dificuldades enfrentadas pelas escolas nesse início de ano letivo, mostradas
pelos meios de comunicação, e como isso tem refletido na opinião pública em
geral. As reportagens dão conta de um panorama bastante crítico em que faltam
professores, a estrutura física das escolas públicas carece de ampliação e
reparos e tudo isso se reflete na aprendizagem dos alunos. Os coordenadores
pedagógicos respondem à comunidade que juntam turmas, mudam formas de
avaliações, intercambiam professores de diferentes disciplinas, na tentativa de
atender a uma “nova maneira” de fazer educação.
Um bom exemplo dessa maneira inovadora do
fazer educacional pode ser conhecido na Escola da Ponte, na comunidade de Vila
das Aves, em Santo Tirso, Portugal. Lá, o professor José Pacheco iniciou em
1976 uma ampla e verdadeira ruptura com o modelo atual hegemônico de fazer
educação, com saberes engavetados em disciplinas, com alunos separados em salas
e em fileiras. Turmas e séries separadas por idade e fases de aprendizagem, com
professores que nada ou pouco sabem do que o colega da outra disciplina ensina.
Na Escola há três núcleos de aprendizagem: o de iniciação; o de consolidação; e
o de aprofundamento. Em cada um deles, vários professores acompanham os alunos,
que trabalham sozinhos ou em grupos, dependendo do grau de autonomia de cada um.
A Escola da Ponte foi a primeira escola
pública do mundo a ter um “contrato de autonomia”, rompendo com o que chamaram de
fundamentalismo pedagógico do sistema público de ensino. Desde 2004 os alunos
da Escola da Ponte aparecem entre os mais bem colocados nas Provas Globais, que
são os testes educacionais portugueses similares, grosso modo, aos vestibulares
e provas do ENEM brasileiros.
A referida escola recebe jovens egressos
de outras escolas que evadiram por problemas de comportamento, crianças com
síndrome de down, paralisia cerebral, ou com outras características que
costumamos chamar de “deficiências”. Menciona o professor que lá não há
dificuldades de aprendizagem, mas sim dificuldade de ensinagem. Ou seja, o que
deve haver é uma adequação na maneira de ensinar que acompanhe e dê conta da
multiplicidade infinita das formas de aprender. Dessa forma, não há
“deficientes”, pelo menos da forma como costumamos chamar. Para o professor
José Pacheco, deficientes então, são as mentalidades e as práticas e não os
sujeitos. Quando me dirijo a uma criança surda e não consigo me comunicar com
ela, o deficiente neste caso sou eu que desconheço a linguagem dela e, portanto
não consigo me comunicar com ela.
Sendo assim, percebe-se que juntar turmas
com um professor só, ou mesmo agrupar várias disciplinas formado uma “grande
área”, não é suficiente para construir uma nova educação. Esse objetivo só pode
ser alcançado, de fato, valorizando os sujeitos, investindo em formação e
condições de trabalho, muito mais do que fazendo coisas novas para solucionar
velhos problemas.
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