Num 22 de julho, há exatos cem
anos, nascia o filho de Dona Maria Fernandes, uma portuguesa imigrada para o
Brasil aos 13 anos com o propósito de trabalhar nas lavouras cafeeiras do
interior paulista. Depois de um tempo na dura vida rural migra para a Capital e
emprega-se como doméstica em uma casa da classe média do Brás, ali engravida de
outro empregado da casa. Para esconder a gravidez, muda de emprego. É nesse
momento que nasce o pequeno Florestan.
O nome do motorista alemão que
trabalhava na mesma casa em que ela, e por quem cultivou uma especial amizade,
serviu de inspiração para o nome do próprio filho. A escolha da empregada
desagradou a patroa, que era madrinha do menino. Para a patroa o nome Florestan
seria mais adequado para gente de classe social mais elevada. Então passa a
chamá-lo de Vicente. Assim foi chamado pela patroa o filho de Maria Fernandes.
A família rica, da pequena burguesia paulistana, não admitiu que o filho da
empregada possuísse um nome tão nobre, o mesmo de um nobre espanhol, personagem
de "Fidelio" a única ópera escrita por Ludwig van Beethoven.
O filho de dona Maria,
analfabeta, não conheceu o pai, ela foi mãe solo. Seu filho trabalhou desde os
seis anos, foi engraxate e conheceu na própria carne o preconceito contra os
pobres, a discriminação e o "ódio de classe". A história de
Florestan, é a síntese da história de muitos "vicentes" que grassam
pelo cotidiano ódio de classe brasileiro. Se Beethoven criou Fidelio, Florestan
Fernandes construiu as bases da Revolução Brasileira.
Hoje comemoramos o centenário
do seu nascimento, é um dos mais importantes intelectuais brasileiros! Sua
teoria social denunciou que a desagregação do regime escravocrata abandonou os
libertos à própria sorte, relegando-os às mazelas sociais mais degradantes. A
história de sua mãe, e sua própria história, reverberaram profundamente na sua
produção intelectual. O menino pobre que se transformou no maior sociólogo
brasileiro é o resultado do próprio país que procurou compreender e explicar.
Uma nação racista, excludente, misógina e muito desigual.
Publicado no Jornal Diário de Santa Maria no dia
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