No atual momento da sociedade
brasileira, muito se tem discutido se as Instituições estão funcionando no
sentido de garantir a democracia ou se estão capitulando frente a uma investida
contra as garantias democráticas. Nessa discussão, encontrei um interlocutor
que garante que elas estão sim funcionando plenamente. Embora o ataque a elas
seja real, isso o interlocutor reconhece, a força das instituições tem sido
justamente a garantia de continuarmos vivendo numa democracia.
Meu velho e querido interlocutor
tem a impressão de elas estarem funcionando porque ele não é uma das mais de 10
mil mortes pela covid-19; porque ele não é profissional da saúde que trabalha
sem EPI, porque sua avó ou neta não mora num acampamento do MST atacado pelo
governo mineiro; porque não é professor da escola básica obrigado à
precariedade do ensino remoto ou ao temerário retorno da voltas às aulas
presenciais; porque seu filho ou filha não é balconista no setor comerciário
severamente exposto ao contágio, porque não ficou preso sem provas por 580
dias, porque não foi seu neto menino que morreu sem ter recebido de volta o
tablet tomado por um juiz parcial e corrupto; porque não depende do auxílio
emergencial para se alimentar, porque não foi condenado por ser “integrante de
grupo criminoso em razão de sua raça”.
De onde meu renomado interlocutor
vê o mundo as Instituições parecem estar funcionando. Falo “parecem” à luz da
história, em outros tempos as sociedades demoraram em perceber a corrosão das
Instituições democráticas, e, quando perceberam já era tarde demais! A Itália
levou 5 anos para imergir no fascismo; a Alemanha mergulhou nele em apenas 5
meses... Isso porque a crise nos anos 30 era mais aguda. Hoje, estamos imersos
numa aguda crise humanitária, econômica e política. A profundeza do nosso
abismo ditará o ritmo que nos levará ao fascismo aberto.
As Instituições pararam de
funcionar desde muito tempo! Pontualmente, quando um deputado do “baixo clero”
elogiou um torturador, facínora e abjeto, e não saiu daquela Casa preso. As Instituições
hoje apenas reagem. O que meu querido interlocutor chama de funcionamento pleno
das Instituições democráticas, em verdade, não se trata da ação delas cumprindo
suas prerrogativas, de suas atribuições (justiça, saúde, educação, segurança),
o que elas fazem é política! E o fazem em favor daqueles que as aparelharam ao
seu favor e benefício. Assim, do ponto de vista da democracia, elas sobrevivem
artificialmente, como se estivessem sufocadas por uma pandemia sem controle.
Da mesma forma que as vítimas
arrebatadas pela Covid-19, as Instituições estão agonizando apenas à espera de
um desfecho final. Negar isso não se aproxima da postura de um frio e lúcido
analista como é meu interlocutor; pelo contrário, aproxima-se muito mais do
negacionismo e do obscurantismo típicos dos que vêem nesse atual governo
brasileiro, alguma possibilidade de futuro. Talvez nossa democracia não resista
à Pandemia, e morra sufocada sem perceber que respirava apenas por aparelhos!
Publicado no Jornal Diário de Santa Maria
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