sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Entrevista Jornal Semanário - outubro 2017

1)Sobre frear a escalada de crimes violentos, como os que estão ocorrendo endemicamente em cidades médias e grandes, algumas ações imediatas podem ser pensadas. E primeiro lugar está nitidamente ocorrendo um encolhimento das forças de repressão expressa na segurança pública. As guardas ostensivas, devido à falta de recursos (salários parcelados, equipamentos deteriorados, carros, armas, coletes; condições de trabalho precárias) estão sendo enxugadas levando diretamente a um recrudescimento dos níveis de criminalidade, em especial os crimes capitais à vida. De imediato seria preciso que a polícia militar ocupasse as ruas, ostensivamente, e a polícia civil intensificasse as ações de investigação e inquérito; porém, para isso, não há recursos. Por mais que o Governo negue essa relação. ela existe, ela é evidente. Isso não resolve, nem remotamente, a situação; mas promoveria um paliativo urgente e necessário para a segurança da população. 
2)Sobre os crimes capitais à vida, e sua relação com o tráfico de drogas, fica muito claro que este é uma chaga social histórica e cruel. São décadas de falta de ações efetivas do estado em relação à questão das drogas. Existe uma relação circular e viciosa entre o tráfico de drogas e o crime organizado. O tráfico está na raiz da organização do crime. As ações do estado não são suficientes para conter a entrada de armas e drogas pelas fronteiras, dessa forma age na esfera da circulação e do consumo, e isso é insuficiente. É como "enxugar gelo", é um trabalho incapaz de produzir resultados efetivos. Os crimes contra a vida são o resultado, na população, no cidadão comum, de um amplo e complexo conjunto de incompetências e inoperância do estado
3)Sobre os crimes estarem mais relacionados com os bairros pobres é uma obviedade. Nesses lugares, em geral, não estrutura suficiente do estado para a saúde, para a educação e muito menos para a segurança. São nessas "franjas" das grandes e médias cidades que o crime mais se organiza, fazendo com que a população mais imediatamente ao seu entorno, sinta mais de perto e mais severamente seus impactos.
4)As políticas públicas são paliativos, são "remédios" que combatem os sintomas, mas nunca as reais motivações da criminalidade. Elas criam uma certa pedagogia perversa que "ensina" ou que acomoda as populações desabastecidas a resistir na miséria, sobreviver na pobreza, suportar a criminalidade, mas nunca a superar as razões que as levaram à deriva social. Uma verdadeira política pública seria pagar sem parcelar os salários da brigada militar e da polícia civil, dar condições de trabalho aos trabalhadores da segurança pública, promover ações de acesso dessas comunidades pobres aos serviços públicos de qualidade. A falta de segurança não vêm da incompetência do estado, mas de uma ação deliberada e consciente do governo do estado em cumprir os compromissos com quem lhe financiou a campanha (grande empresariado, bancos, agronegócio exportador) às custas do esforço e da vida de populações historicamente fragilizadas.
5)A repressão ao crime organizado, por uma polícia sem equipamentos e com salários parcelados, apenas demonstra a face policialesca e autoritária de uma estado que negligencia sua principal função: equacionar os bens públicos. Enquanto atende servilmente o grande capital pune severamente os trabalhadores com suas estratégias políticas arbitrárias. Nesse sentido, pouco produz efetivamente para a solução da questão da segurança; pelo contrário, agrava a situação, ao criar na população civil um estado de guerra e de medo; onde o verdadeiro "inimigo" (armas e drogas) não é combatido em sua gênese. 

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