segunda-feira, 30 de maio de 2011

A noção de estrutura em etnologia - Claude Lévi-Strauss

LEVI-STRAUSS, Claude. “A noção de estrutura em etnologia”. In. Antropologia estrutural. 5 º Ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1996.

Ao falar-se em estrutura social, dá-se atenção aos aspectos formais dos fenômenos sociais. As pesquisas estruturais não esperam que as ciências mais avançadas possam fornecer modelos de métodos. Na tentativa de entender o que é a estrutura social e que estudos lhe dizem respeito Krober diz que a noção de estrutura é dada por certo modismo, isso leva o termo a ser usado para definir as mais variadas coisas. As afirmações desse autor colocam em dúvida o uso de estrutura em antropologia. Assim uma definição do termo estrutura faz-se indispensável. O que se busca aqui é a estrutura da noção de estrutura e depois comparar esta definição provisória com a de outro.

Definição e problemas de método


A noção de estrutura social não se refere à realidade empírica, mas aos modelos construídos em conformidade com esta. Muitas vezes esta noção foi confundida com a noção de relações sociais. Estas últimas são as matérias prima empregada para a construção do modelo que tornará manifesta a estrutura social.

Para merecer o nome de estrutura, os modelos devem satisfazer a quatro condições.
1°) Ter caráter de sistema, a modificação em um deles deve modificarnos demais;
2°) Todo o modelo pertence a um grupo de transformações e o conjunto destas constituem um grupo de modelos;
3°) As propriedades anteriores permitem prever o modo como o modelo reagirá;
4°) O modelo deve ser construído de modo que seu funcionamento possa explicar todos os fatos observados.
a)       Observação e experimentação

Estes dois níveis devem ser sempre distintos. Experimentação dos modelos é o conjunto de processos que permitem saber como um modelo reage às modificações, fazer comparações entre modelos do mesmo tipo ou tipos diferentes. Na observação, todos os fatos devem ser observados e descritos sem permitir que nada altere sua natureza. Eles devem ser observados em si mesmo e em relação ao conjunto.

“...Do ponto de vista que é o nosso, permitem [as regras descritas no parágrafo a cima] compreender que não há contradição, mas intima correlação, entre o cuidado do detalhe concreto próprio da descrição etnográfica e a validade e a generalidade que reivindicamos para o modelo construído a partir dela” (p. 317)
b)       Consciência e inconsciente
Os modelos podem ser conscientes ou inconscientes. Segundo Boas prestam-se mais a analise estrutural os fenômenos que a sociedade não dispõe de um modelo consciente para interpretá-lo. Os modelos conscientes (normas) são os mais pobres, pois sua função é perpetuar as crenças e usos, mais que expor as causas.
Assim, o etnólogo pode Ter de construir um modelo para explicar fenômenos que não foram tratados pela sociedade que estuda, ou então, terá que trabalhar com modelos já construídos pela cultura considerada. Os modelos do segundo caso não são uma estrutura, mas um bom caminho para que o etnólogo chegue até ela. A tendenciosidade ou erros que eles possam conter é parte integrante do que se deve estudar.
c)       Estrutura e medida
Apesar de em alguns caso ser possível se estabelecer valores numéricos para algumas constantes, não há uma conexão necessária entre medida e estrutura.
d)       Modelos mecânicos e modelos estatísticos
Os modelos mecânicos são aqueles em que os elementos estão na escala de fenômenos. Nas leis de casamento das sociedades primitivas correspondem a modelos onde figuram os indivíduos efetivamente distribuídos em classe ou clãs. Já os modelos estatísticos são aqueles em que os elementos estão em uma escala diferente, exemplo os casamentos em nossa sociedade. Estes dependem de fatores mais gerais que vão desde o tamanho do grupo até fluidez social e quantidade de informação. Para se definir um modelo neste caso é preciso determinar constantes, médias e limiares. Há caso em que coexistem os dois tipos de modelo.
Tendo em vista que um mesmo gênero pode se prestar ao um estudo sob este dois pontos de vista, ou pela construção de um modelo mecânico ou por um modelo estatístico, torna-se necessário fazer um recorte do fenômeno para que ele possa ser usado na visão escolhida. Assim, a tarefa do Estruturalista consiste em:

“identificar e isolar os níveis de realidade que têm um valor estratégico do ponto de vista em que ele se coloca, ou, em outras palavras, que podem ser representados sob forma de modelos, qualquer que seja a natureza destes últimos” (p. 321)

Como as pesquisas estruturais têm a pretensão de construir modelos que sejam redutíveis as propriedades de outros modelos, que por sua vez dependem de níveis estratégicos diferentes (entendo que eles esteja falando das disciplinas ou diferentes áreas do conhecimento) espera-se derrubar as barreiras entre as disciplinas e instituir entre elas uma verdadeira colaboração. Um exemplo é a relação entre a história e a etnologia. A noção de tempo não é o centro do debate.
A etnografia e a história diferem da etnologia e da sociologia. As duas primeiras fazem a coleta de dados e organizam documentos, as outras estudam os modelos construídos a partir do material coletado pelas primeiras. A etnografia e a etnologia correspondem a duas etapas de uma mesma pesquisa que termina em modelos mecânicos, enquanto a história e disciplinas que são suas “auxiliares” terminam em modelos estatísticos.
As ciências sociais distinguem-se pelo emprego de duas categorias de tempo: o tempo mecânico, que é reversível e não-cumulativo, utilizado pela etnologia e o tempo estatístico utilizado pela história não é reversível e comporta uma orientação determinada ou a idéia de uma evolução.
Firth faz a distinção de que para a noção de estrutura social o tempo não desempenha nenhum papel, mas para o de organização social ele intervém. Boas e sua escola se ocuparam de modelos mecânicos e portanto fizeram bem em recusar a noção de evolução. Esta noção adquire sentido no terreno da história e da sociologia desde que seus elementos não sejam formulados em termos de uma tipologia culturalista
Sem o reconhecimento do dilema de Goldstein: estudar casos numerosos superficialmente ou limitar-se a análise profunda de um número limitado de casos, a analise estrutural seria vã. Atribui-se a esse autor a formulação do que se poderia chamar de ‘as regras do método estruturalista’, colocar as conclusões de um ponto de vista bem geral para que possam ser válidas além do domínio limitado onde foram produzidas. Grosso modo, seria partir da analise do específico para o geral ou universal.

Morfologia social ou estrutura de grupo
O termo grupo, nesta seção, designa a maneira como os fenômenos se agrupam entre si. Resulta do estudo das relações sociais.com a ajuda dos modelos. Espaço e tempo são dois sistemas de referência para pensar as relações sociais. Estas dimensões são concebidas de formas diferentes para cada sociedade humana. E ambos, a partir de suas manifestações objetivas, têm importância no estudo dos fenômenos sociais; as considerações históricas e geográficas não são descartadas analise estrutural.
Aproximamo-nos das questões matemáticas abordando aos estudos demográficos. Duas linhas de pesquisa oferecem interesse para o etnólogo. A primeira liga-se a sociologia urbana rank-sire que permite, para um conjunto determinado, estabelecer uma correlação entre o tamanho absoluto das cidades e a posição de cada uma num conjunto ordenado. A Segunda é composta de trabalhos de certos demógrafos franceses que consideram que as dimensões absolutas de um isolado podem ser calculadas segundo freqüência de casamento. Além disso, é necessário levar em consideração o comprimento dos ciclos matrimoniais, e fazer levantamento genealógico ou seja o demógrafo.
Outro problema é o alcance da validade de cultura. Tal como o isolado em demografia ela é fundamental em etnologia. Está se denominando por cultura todo um conjunto etnográfico que apresenta com relação a outras diferenças significativas. Sendo as constantes ligadas a tais afastamentos, essa noção pode corresponder a uma realidade objetiva apesar de permanecer em função do tipo de pesquisa considerada. Assim uma coleção de indivíduo depende de vários sistemas de cultura: continental, nacional, provincial, local, etc.
Estatística social, ou estrutura de comunicação
A sociedade é feita de indivíduos que se comunicam entre si. Não há uma ausência de comunicação absoluta. Próximo às fronteiras a comunicação enfraquece. Toda a sociedade a comunicação acontece em três níveis: comunicação de mulheres, comunicação de bens e serviços e comunicação de mensagens e poderia acrescentar que as regras de parentesco e de casamento definem um quarto tipo de comunicação.
Dessa maneira de ver a comunicação depreende três ordem de considerações:
1°Melhor definição das relações entre ciência econômica e estudos de estrutura social. Através de fatos econômicos a teoria etnológica descobre algumas das melhores regularidades e é nela que se encontra pela primeira vez modelos mecânicos do tipo utilizado pela etnologia e pela lógica;
2° A associação da antropologia social, ciência econômica e da lingüística para formar uma ciência da comunicação consistirá, sobretudo em regras. As quais são independentes da natureza dos parceiros cujo jogo eles comandam;
3° Chegasse-se, assim, a possibilidade de se introduzir nos estudos de parentescos e casamentos as concepções derivadas da teoria da comunicação. A Informação de um sistema de casamento é função do número de alternativas de que dispõe o observador para definir o status matrimonial de um indivíduo qualquer, com relação a um pretendente determinado.
Abre-se, a partir disso, a possibilidade de conversão dos modelos estatísticos em modelos mecânicos e inversamente. Ou seja, acaba-se com a distância que se colocava entre a etnologia e a demografia.
O esforço do que foi dito até aqui é no intuito de avaliar a contribuição de pesquisas matemáticas à etnologia, cujo beneficio consiste na oferta de um conceito unificador – a noção de comunicação - que concilia em uma única disciplina pesquisas muito diferentes.
Abordo, agora, o problema de se a antropologia social está habilitada para utilizar estes instrumentos. A antropologia social tem se dedicado ao estudo do parentesco reconhecendo sua importância para o desenvolvimento desta ciência. Os fatos que dizem respeito “...ao parentesco e a o casamento manifestam, no mais alto grau, estes caracteres duráveis, sistemáticos e contínuos até na mudança, que dão ocasião à analise ” (p. 341). No entanto, o estudo do parentesco enfrenta o problema de que os dados disponíveis são pouco aprofundados e referem-se aos mais diferentes povos.
Ao se falar em parentesco o primeiro nome que se evoca é o de Radcliffe Brown. Ele tenta, partindo dos sistemas de parentescos formular concepções metodológicas que pudessem ser usadas por todo o etnólogo. Para o autor, este estudo deve ter os seguintes objetivos: busca por classificações sistemáticas, compreender traços de cada cultura e conseguir generalizações validas.
O conceito de estrutura de Radcliffe Brown aparece como intermediário entre a antropologia social e a biologia. Persistena convicção de que os laços biológicos são a origem e o modelo de todos os tipos de famílias. A noção defendida no trabalho por nós elaborado difere dele porque se pretende fazer uso da noção de estrutura para elevar os estudos de parentesco até a teoria de comunicação.
Da forma como Radcliffe-Brown entende a estrutura decorrem duas conseqüências: repugnância em distinguir claramente estrutura social e relações sociais;  associação de estrutura social e relação social a forma mais simples de relação, a que se dá entre duas pessoas. Essas relações diádicas se dariam em um numero indeterminado de repetições e que formariam uma cadeia que se estende indefinidademente pela adjunção de novas relações. Observador, analista e classificador incomparável, ele decepciona quando quer ser teórico. Radcliffe-Brown tende a confundir observação e experimentação
Murdock: sua contribuição para os estudos estruturais consiste na tentativa de rejuvenescer o método estatístico. Ele está prevenido com relação aos perigos que o método carrega: a validade da correlação depende da validade da divisão que se recorreu para se definir os fenômenos postos em correlação. Também, se empenhou em reconstruir a evolução histórica dos sistemas de parentesco. No entanto, ele não raciocina sobre sociedades reais, mas sobre abstrações. Isola a organização social de outros aspectos da cultura e os sistemas de parentesco da organização social. Depois, divide arbitrariamente a organização social em pedaços e fatias segundo princípios inspirados pelas categorias tradicionais da teoria etnológica. Sua construção histórica permanece ideológica. Murdock não distinguem suficientemente os modelos estatísticos dos modelos mecânicos.
A obra de Lowie consiste em um esforço para definir quais são os fatos. Ele, desde 1915, justificava os estudos de parentesco dizendo que a substância da vida social pode ser analisada de modo rigoroso em função da classificação de parentes e afins; derrubou a perspectiva estritamente histórica e definia a exogamia como um esquema institucional engendrando os mesmos efeitos em todo lugar em que está presente. Dentre tantas outras contribuições aos estudos do parentesco, cabe destacar sobre Lowie que sempre se preocupou em encarar as organizações sociais de um  duplo ponto de vista: regras institucionais de um lado e expressões medias de reações psicológicas individuais, de outro. Essas últimas sujeitas a contradizer as regras e as modificar.
Dinâmica social: estrutura de subordinação
Ordem dos elementos (indivíduos e grupos )na estrutura social
 para o autor dessas linhas o sistema de parentesco e as regras de casamento e filiação formam um conjunto coordenado cuja a função é assegurar a permanência do grupo social, entrecruzando, à maneira de um tecido, as relações consangüíneas e as fundadas na aliança” (p. 351).
O funcionamento da maquina que extrai mulheres de suas famílias consangüíneas para redistribuí-las em outros grupos constituindo outras famílias, na ausência de influência externa, conservaria um caráter estático. Como explicar as transformações diacrônicas da estrutura e ao mesmo tempo as razões de porque a estrutura social não se reduz a um sistema de parentesco.
1º) Deve-se perguntar quais são os fatos. Lowie precisou algumas categorias, entre elas, classes sociais, associações, Estado;
2º) Correlacionar fenômenos que dependem de nível já isolado (parentesco), e os do nível imediatamente superior. Daí decorre dois problemas: as estruturas de subordinação podem manifestar propriedades dinâmicas; e, de que maneira as estruturas de comunicação e de dominação reagem umas as outras. O primeiro é o da educação: em cada momento uma geração encontra-se em subordinação ou dominação com a que a precede. Existe também a correlação entre a estrutura de parentesco estática (terminologia) e as condutas (mais dinâmicas). Para Radcliffe-Brown cada terminologia corresponde a uma conduta diferenciada. Proponho (Levi-Strauss) uma relação dialética entre terminologia e atitude, isso resultaria em que as regras de conduta entre parentes seriam a tentativa de resolver contradições provenientes do sistema terminológico e das regras de aliança. O segundo problema diz respeito a sistemas de parentesco não regulado por aliança entre iguais. Diversas situações têm de ser analisadas, contudo tal problema é ainda bastante negligenciado.
3º) O terceiro método consistiria em um estudo de todos os tipos de estruturas concebíveis, resultante de relações de dependência e de dominação aparecidas ao acaso. A  estruturas sociais seriam transitivas e não cíclicas. O estudo de parentesco mostra a possibilidade de transformação de uma ordem transitiva e não cíclica em outra intransitiva e cíclica.
Ordem das ordens
A sociedade corresponde a diversos tipos de ordens. O sistema de parentesco oferece um meio de ordenar, a organização social outro, as estratificações sociais um terceiro. Tentativas de formular modelos gerais que abranjam todos os demais levam o etnólogo ao problema de saber até que ponto o modo de conceber uma sociedade, suas diversa estrutura de ordem e as relações que as unem correspondem à realidade. Até agora só se conseguiu abordar ordens “vividas”, ou seja, ordens possíveis de abordar do exterior.
Em forma de conclusão poderíamos dizer que a antropologia social é uma ciência muito jovem e é natural que procure construir modelos imitando os mais simples que lhe apresenta as ciências mais avançadas. Na busca desses modelos o antropólogo se encontra em uma posição intermediaria entre escolher os modelos mecânicos ou os estatísticos. “...estamos num terreno hibrido e equivoco; nossos fatos são muito mais complicados para serem abordados de uma maneira, e não o suficiente para que se possa aborda-los de outra” (p. 359).

O estado das pesquisas estruturais é o seguinte: teve-se êxito em isolar os fenômenos. Os fatos antropológicos estão suficientemente próximos aos outros fenômenos para que se possa oferecer um tratamento análogo ao dado a esses últimos. Por outro lado, nossos dados são muito variáveis e de pouca intensidade o que dificulta um conhecimento mais profundo e dedicado. Comportamos-nos como botânicos colhendo ao acaso as mais variadas amostras.

sábado, 14 de maio de 2011

Avaliação de Ciência Política - do XV ao XVIII


QUESTÃO 01 – No verbete sobre Ciência Política, no dicionário de política de Norberto Bobbio, p. 164, o autor afirma que a Ciência Política surge como disciplina e como instituição na metade do século XIX. Esta ciência está inserida, mais especificamente, no campo de conhecimento compreendido como Ciências Sociais. Sabendo-se que esse campo de conhecimento, conforme informado no primeiro dia de aula, compreende duas outras disciplinas, assinale a alternativa que apresenta as três áreas específicas das Ciências Sociais:

(a)  História, Economia e Ciência Política
(b) Ciência Política, Sociologia e Economia
(c)  Sociologia, Ciência Política e Antropologia
(d) Antropologia, Economia e Sociologia
(e)  Psicologia, Economia e Ciência Política

QUESTÃO 02 – De acordo com o dicionário de política de Norberto Bobbio, assinale a alternativa que melhor aponta a definição do verbete Governo:

(a)  O Governo é uma organização, que representa a autoridade governante de uma determinada unidade política. É o poder de regrar uma sociedade política e o aparato pelo qual o corpo governante funciona e exerce a autoridade. Governo não implica necessariamente a existência de Estado.
(b) O Governo é usualmente utilizado para designar a instância máxima de administração executiva, geralmente reconhecida como a liderança de um Estado ou de uma nação. Normalmente denomina-se Governo ou Gabinete, ao conjunto dos dirigentes executivos do Estado, ou ministros. Por isso, também chama-se Conselho de Ministros.
(c)  A forma ou regime de governo pode ser República ou Monarquia, e o sistema de governo pode ser Parlamentarismo, Presidencialismo, Constitucionalismo ou Absolutismo. Uma nação sem Governo é classificada como anárquica. Pode-se dizer que forma de governo é um conceito que se refere à maneira como se dá a instituição do poder na sociedade e como se dá a relação entre governantes e governados. Sistema de governo, por outro lado, não se confunde com a forma de governo, pois este termo diz respeito ao modo como se relacionam os poderes.
(d) Governo é o conjunto das instituições politicamente organizadas em estruturas próprias (Estado, forças armadas, funcionalismo público etc), que controlam e administram uma nação. Possui uma organização política, social e jurídica, ocupando um território definido, normalmente onde a lei máxima é uma Constituição escrita, redigida e dirigida por uma autoridade que possui soberania reconhecida tanto interna como externamente. Um Governo soberano é responsável pela organização e pelo controle social, pois detém o monopólio da violência legítima.
(e)  Para a moderna concepção política, o poder de Governo, uma vez institucionalizado, está normalmente associado à noção de Estado. Pode-se ainda definir Governo como o conjunto de pessoas que exercem o poder político e que determinam a orientação política de uma determinada sociedade.

QUESTÃO 03 – De acordo com Bobbio (2004), a Ciência Política, como disciplina, é uma forma de conhecimento científico originada no século XIX. Como toda forma de conhecimento, ela reflete as preocupações e as necessidades dos homens de seu tempo. A emergência do pensamento social em bases científicas se deu em função de fatores históricos, sociais, políticos e culturais. Os fatores históricos referem-se às transformações na estrutura da sociedade. Já os fatores sociais, políticos e culturais, estão muito mais relacionados às transformações nas maneiras de as pessoas pensarem, se relacionarem e compreenderem a sua realidade. Do ponto de vista histórico, social, político e cultural, uma multiplicidade de eventos poderiam ser apontadas como determinantes para o surgimento da Ciência Política moderna. Basicamente três acontecimentos podem ser destacados como fundamentais para este processo, pois eles, concomitantemente, afetaram diretamente as bases sociais e políticas da convivência humana.

I.                   O primeiro acontecimento é de ordem econômica. Os séculos XVIII e XIX presenciaram uma das mais intensas, rápidas e profundas transformações sociais que a história já vivenciou. Junto com as mudanças econômicas vieram à tona fenômenos sociais radicalmente novos, como a urbanização, a aceleração do tempo, a família nuclear e uma série de problemas sociais, como a proletarização, novas formas de pobreza e conflitos políticos.
II.                Um segundo evento, este essencialmente político, marcou a Europa no final do século XVIII. A partir dele, iniciou-se a queda dos regimes monárquicos absolutistas e começou-se instaurar o sufrágio eleitoral democrático moderno. Emergem os Direitos do Homem e as noções de liberdade, igualdade e de fraternidade, estremecendo as tradições políticas européias remanescentes de tempos medievais e renascentistas.
III.             Por último, e concomitante aos dois primeiros eventos, consagrava-se na Europa uma nova forma de pensar e entender filosoficamente o mundo. Esse movimento de idéias tinha como objetivo primordial entender e organizar a sociedade a partir da razão. Essa razão era a luz que sepultaria as trevas, representadas, sobretudo, pela monarquia e pela religião. Essa metamorfose cultural, em trânsito desde o século XV, tencionava colocar o Homem (antropocentrismo), no lugar de Deus (teocentrismo), marcando, com isso, a emergência do pensamento social em bases científicas e racionais.

Os três eventos narrados acima são historicamente, melhor denominados de:

Revolução Industrial (   )
Revolução Francesa (   )
Revolução Iluminista (   )



QUESTÃO 04 – No verbete sobre Poder, no dicionário de política de Norberto Bobbio, p. 940, o autor afirma que o campo em que o Poder ganha seu papel mais crucial é o da política. Nesse campo, o Poder tem sido pesquisado e analisado continuamente e com a maior riqueza de métodos e resultados. Uma análise clássica é, segundo Bobbio, a de Max Weber. Segundo Weber, a dominação legítima pode justificar-se por três motivos de submissão ou princípios de autoridade, baseados em racionalidade, ancestralidade ou afetividade. Para Weber, as relações de mando e de obediência mais ou menos confirmadas no tempo, e que se encontram tipicamente nas relações de poder, tendem a se basear não só em fundamentos materiais ou no mero hábito de relações de obediência dos súditos, mas também e principalmente num específico fundamento de legitimidade. Aponte a alternativa que apresenta estes três tipos puros de dominação legítima:

(a)  Coação, persuasão e manipulação
(b) Racional, ancestral e afetiva
(c)  Coercitivo, burocrático e legal
(d) Legal, tradicional e carismático
(e)  Burocrático, carismático e autoritário

QUESTÃO 05 – Nícolo Maquiavel é considerado o precursor da política moderna por ter escrito um primeiro “manual de política”, um manual sobre a arte de governar, dedicado a Lourenço de Médici (neto de Lourenço, o Magnífico). Em outras palavras, na obra O Príncipe, o autor fala sobre as relações que um monarca de ter com os nobres, com o clero e também com o povo. Descreve como conquistar o poder e mantê-lo, dá instruções de como o monarca deve explorar ao máximo seus poderes, além de ensinar a manipular a vontade do povo. A partir do texto de Maria Tereza Sadek e da teoria política de Maquiavel, leia as afirmações abaixo e aponte (V) para verdadeiro e (F) para falso:

I.                   Maquiavélico e maquiavelismo são adjetivo e substantivo que estão tanto no discurso erudito, no debate político, quanto na fala do dia-a-dia. Seu uso extrapola o mundo da política e habita sem nenhuma cerimônia o universo das relações privadas. Em qualquer de suas acepções, porém, o maquiavelismo está associado à idéia de perfídia, a um pronunciamento astucioso, velhaco, traiçoeiro, sendo uma forma de desqualificar o inimigo, apresentando-o sempre como a encarnação do mal.

II.                Segundo Maria Tereza Sadek a chave metodológica para compreender o autor é saber que Maquiavel pretendia ver e examinar a realidade tal como ela é e não como se gostaria que ela fosse. A filosofia política da época preocupava-se com o dever ser. A preocupação de Maquiavel era com o ser, com a realidade. O autor está preocupado em saber como os homens governam de fato, quais os limites do uso da violência para conquistar e conservar o poder.

III.             Acerca da natureza humana, pode-se afirmar que Maquiavel põe fim à idéia de uma ordem natural e eterna. Ela é produto necessário da política, não é natural, não é manifestação de uma vontade extraterrena, nem se dá ao acaso. A ordem deve ser construída por homens para se evitar o caos e a barbárie. Uma vez alcançada, não será definitiva, há sempre a ameaça iminente de ser desfeita.

IV.            Em O príncipe fica claro que a lógica do poder é, antes de tudo, a lógica da força. A política é um constante conflito, assim como toda atividade humana. A boa ação política é, nesse sentido, aquela que consegue atingir os resultados almejados. É uma lógica em que os fins se sobressaem aos meios, desde que os primeiros se dêem em benefício do bem comum.

V.               Para Maquiavel, o príncipe virtuoso será aquele que aproveitar a situação para realizar as ações necessárias para alcançar os objetivos pretendidos. O governante deverá agir com virtú, conceito que para Maquiavel não remete a bondade ou justiça, mas, sim, a força e valor. O conceito de virtú está muito mais relacionado ao de fortuna, que significa oportunidade, acaso. Assim, a virtude maquiavélica se mostrará na ação contundente e oportunista, ancorada na prudência do observador atento.

Marque a alternativa correta:

(a)  A afirmação (II) e uma outra são falsas
(b) A afirmação (V) e uma outra são verdadeiras
(c)  Há, no máximo, três afirmações verdadeiras
(d) Há, pelo menos, três afirmações falsas
(e)  Há mais afirmações falsas do que afirmações verdadeiras

QUESTÃO 06 – Segundo o texto de Renato Janine Ribeiro sobre Thomas Hobbes, podemos afirmar que o autor é um contratualista. Um daqueles pensadores inseridos, basicamente, entre os séculos XVI e XVIII, que acreditavam que a origem do Estado e/ou da sociedade está em um contrato. Nessa corrente de pensamento político, os homens viveriam, quando em seu estado de natureza, sem um poder de organização. Este, só surgiria depois de um pacto firmado por eles estabelecendo as regras de convívio social e de subordinação política. A partir das informações do texto e a respeito da obra de Hobbes, responda SIM ou NÃO para as perguntas a seguir:

I.                   Há, pelo menos, dois paradigmas políticos e filosóficos bem claros, que contrastam as maneiras de conceber o mundo e podem ser exemplificados por Thomas Hobbes e J.J. Rousseau. É correto afirmar que os paradigmas hobbesiano e rousseauniano apresentam posições diametralmente opostas, sendo que no primeiro a bondade humana natural teria sido corrompida pelas convenções sociais; enquanto que, no segundo, a maldade intrínseca à humanidade provocaria comportamentos justificadamente defensivos?

II.                Para Hobbes, o homem em seu estado de natureza, na ânsia de sobreviver e satisfazer seus desejos vive em uma constante guerra de todos contra todos, devido à ausência de governo ou de leis que os regulem. É correto afirmar que a associação política entre os homens, isto é, a determinação de viver em sociedade, decorre fundamentalmente do desejo universal de vida e de auto-conservação?

III.             Segundo Hobbes, a paz alcançada pelo pacto político entre os homens que decidem viver em sociedade não é estável devido ao fato de que eles não possuem uma disposição natural para viver em sociedade, e de que a natureza do Homem tende sempre ao descumprimento desse pacto?

IV.            A ordem política, para Hobbes, põe fim à luta de vida ou morte, e isso só ocorre na medida em que os membros da coletividade consentem em reconhecer a absoluta soberania de uma autoridade maior que exerce seu poder por meio de decisões das quais só ela é responsável e de leis que ela impõe como princípios necessários da organização do poder?

V.               Na expressão conhecida de Hobbes “Homo homini lupus”(o homem é o lobo do homem), fica demonstrado o caráter monstruoso da condição humana. Em sua obra O Leviatã, Hobbes compara o corpo político, o Estado a um lobo selvagem, que compete pela sobrevivência, monstruoso, cruel e opressor?

  1. (   )
  2. (   )
  3. (   )
  4. (   )
  5. (   )


QUESTÃO 07 – Para compreender o pensamento de John Locke é necessário entender que o pensamento do século XVII caracterizou-se fundamentalmente por ser metafísico e racionalista, enquanto que o do século XVIII apresenta uma tendência mais epistemológica. Em outras palavras, significa dizer que nesse último, a investigação sobre como a mente humana e como as pessoas adquirem conhecimento verdadeiro das coisas é muito mais empirista. Isto é, se enfatiza o papel da experiência no processo de formação das idéias e do conhecimento. A partir do texto de Leonel Itaussu Almeida Mello sobre a teoria social e política de Locke, assinale a alternativa incorreta:

(a)  No Ensaio acerca do Entendimento Humano desenvolve sua teoria sobre a origem e a natureza de nossos conhecimentos. Comparando a mente humana a uma tábula rasa, a exemplo de uma folha de papel em branco, Locke rejeitava a doutrina das ideias inatas e afirmava que tudo que aprendemos tem origem no que pode ser percebido pelos sentidos. Como os demais empiristas acreditava que todo conhecimento humano deriva da experiência.
(b) A obra política de John Locke teve uma influência considerável na intelectualidade européia. Em sua obra Segundo Tratado do Governo Civil o autor apresentou a fórmula liberal do Estado moderno. Sua clareza, sua concisão, mas também sua moderação e sua preocupação com a consciência comum fizeram dela um instrumento por excelência da luta contra a tirania religiosa e política. As duas declarações dos direitos do Homem (Americana e Francesa) inspiraram-se em suas obras.
(c)  Os principais fundamentos do Estado civil, para Locke, podem ser compreendidos como o livre consentimento dos indivíduos para o estabelecimento da sociedade, o livre consentimento da comunidade para a formação do governo, a proteção dos direitos de propriedade pelo governo, o controle do executivo pelo legislativo e o controle do governo pela sociedade.
(d) O contrato social em Locke assemelha-se ao contrato social hobbesiano. O estado de natureza, relativamente pacífico, não está isento de inconvenientes, como a violação da propriedade. Na falta de leis estabelecidas, de um moderador, da força coercitiva de uma autoridade, os indivíduos se vêem em guerra uns contra os outros. É a necessidade de superar esses inconvenientes que leva os homens a se unirem e estabelecerem livremente entre si o contrato social. Nesse caso, os homens se submetem a um pacto, visando a preservação de suas vidas, abrindo mão de seus direitos originais, de seu estado de natureza.
(e)  Locke é considerado uma das maiores expressões do individualismo liberal. Para ele, a questão central do estado civil é perpassada pelo jusnaturalismo, e reside nos direitos naturais inalienáveis do indivíduo: a vida, a liberdade e a propriedade.

QUESTÃO 08 – A partir do texto de J.A.Guilhon Albuquerque pode-se compreender que Montesquieu seria, até certo ponto, um discípulo dos filósofos clássicos. Nesse sentido desenvolveu uma teoria sobre os tipos de governo que, mesmo se afastando em alguns pontos da teoria clássica de Aristóteles, pertence ainda à tradição desses filósofos. Montesquieu seria também, em boa medida, um pensador que investiga a influência que o clima, a natureza do solo, a quantidade de pessoas e a religião podem exercer sobre os diferentes aspectos da vida coletiva. Sobre a teoria social e política de Montesquieu, assinale (V) para verdadeiro e (F) para falso:

I.                   Para Montesquieu, a forma de organização política, em três níveis de poderes, é positiva, pois a concentração de poder em uma só mão poderia recair para o abuso. Nessa divisão, cada poder deve agir independentemente, mas ao mesmo tempo, em articulação com os demais poderes, de modo que eles se limitem mutuamente.

II.                Na análise social e política de Montesquieu, podemos encontrar duas características marcantes: liberalismo político e poder laico.

III.             Em Montesquieu, a liberdade está no equilíbrio das forças. Só esse equilíbrio de forças impedirá as arbitrariedades e propiciará o máximo de liberdade a cada indivíduo.

IV.            Filósofo iluminista, crítico voraz do poder absolutista, Montesquieu foi um dos mais influentes teóricos de sua época. Durante a Revolução Francesa, foi protagonista no enfrentamento do rei Luiz XVI e na derrubada da monarquia.

V.               Em O Espírito das Leis, sua mais influente obra política, afirma que em uma república, quando o povo todo detém o poder soberano, configura-se uma aristocracia. Quando esse poder soberano está nas mãos de apenas uma parte do povo, então configura-se uma democracia.


Marque a alternativa correta:

(a)  Há três alternativas verdadeiras e duas alternativas falsas
(b) Há mais alternativas falsas do que alternativas verdadeiras
(c)  A alternativa (I) é falsa
(d) A alternativa (III) é falsa
(e)  A alternativa (V) é verdadeira

QUESTÃO 09 – O texto de Milton Meira do Nascimento a respeito do pensador iluminista Jean-Jacques Rousseau dá conta de um autor inserido em uma época denominada século das luzes, onde se preconizava a difusão do saber como meio eficaz para se por fim à superstição, à ignorância, ao império da opinião e do preconceito e que acreditava estar dando uma contribuição enorme para o progresso do espírito humano. A partir do texto utilizado em aula e sobre o legado de Rousseau, assinale a alternativa incorreta:

(a)  As duas obras de maior caráter político de Rousseau são Do Contrato Social e Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens. No primeiro, Rousseau afirma a conhecida frase “O homem nasce livre, e por toda parte encontra-se aprisionado.” Já no Discurso, Rousseau afirma que “falando incessantemente de necessidade, avidez, opressão, desejo e orgulho transportaram para o estado de natureza as idéias que tinham adquirido em sociedade; falavam do homem selvagem e descreviam o homem civil.”
(b) O homem em estado de natureza, segundo Rousseau, teria vivido livre solitário e feliz. Seria orientado apenas por seu instinto de auto-preservação, sem precisar de nada nem de ninguém. Dessa forma, o autor contesta o pensamento de Locke e de Hobbes, sendo então o primeiro pensador a criticar a civilização como fator de degeneração da natureza humana. Segundo Rousseau, o homem é bom por natureza e é a sociedade que o corrompe.
(c)  O contrato social, o pacto civil, era concebido por Rousseau como um engodo, uma burla. Seria essa associação, para o autor, um pacto cuja função era defender e proteger as pessoas e os bens. Nesse sentido, cada um, unindo-se a todos, só obedece contudo a si próprio, permanecendo tão livre quanto antes. Assim, todos se mantêm livres e iguais ao ingresso na sociedade civil, no corpo político.
(d) No começo do Discurso Rousseau descreve a gênese da sociedade civil: “O primeiro que, tendo cercado um terreno, lembrou-se de dizer: ‘isto é meu’, e encontrou pessoas bastante simples para crê-lo, foi o verdadeiro fundador da sociedade civil.” Assim, o autor atribui a maior importância para a propriedade privada na origem da desigualdade entre os homens. Ameaçados em sua segurança, os homens são levados a consentir numa certa organização política e a firmarem determinados contratos sociais.
(e)  As idéias políticas de Rousseau ultrapassaram o contexto revolucionário francês do final do século XVIII. Elas estariam na raiz dos movimentos socialistas surgidos, em toda Europa, a partir do século seguinte. A idéia de vontade geral, é para o autor, aquela que coloca a soma dos interesses particulares à frente da coletividade. Todo cidadão deve se subordinar à vontade geral, mesmo que como indivíduo, entenda que ela contraria seu interesse particular.

QUESTÃO 10 – Em artigo publicado no Caderno Mix do Jornal Diário de Santa Maria, p. 14, de 22/23 de abril de 2006, o professor, doutor em ciência política, do Departamento de Ciências Sociais da UFSM, Reginaldo Teixeira Perez afirma “Na política, os fins acabam por se impor: almeja-se chegar ao poder. Daí a reação dos institucionalistas. Montesquieu e Madison, por exemplo, pensadores do século 18 e representantes, respectivamente, das escolas políticas francesa e norte americana, investiram na criação de mecanismos de controle sobre os responsáveis pelos poderes. Passados dois séculos, remanesce a lição dos mestres: urge desconfiar da alma humana.” Com base no texto de Fernando Papaterra Limongi, aponte a alternativa que apresenta os três autores do texto “O Federalista”:

(a)  Montesquieu, James Madison e Rousseau
(b) Rousseau, Alexander Hamilton e James Madison
(c)  James Madison, Alexander Hamilton e John Jay
(d) John Jay, Thomas Hobbes e Montesquieu
(e)  Alexander Madison, John Hamilton e James Jay

Resenha do texto de Denys Cuche


Hierarquias Sociais e Hierarquias Culturais - Capítulo 5


                                                                           
DEFINIÇÃO DE CULTURA

·         Cultura não é uma herança que se transmite imutável de geração em geração, é uma produção e construção histórica das relações dos grupos sociais entre si.
·         Para analisar um sistema cultural é necessário analisar o contexto sócio-histórico.
·         Nascem de relações sociais que são sempre desiguais, resultando nas hierarquias sociais.
·         Todas as culturas merecem a mesma atenção, mas isso não significa que todas elas são reconhecidas como de mesmo valor.
·         Daí a necessidade de fazer uma análise “polemológica” das culturas: elas se desenvolveram na tensão e, muitas vezes, na violência.
·         Nas disputas culturais não é a lei dos mais fortes que está em jogo; por isso, é necessário evitar as interpretações de que o mais forte está sempre em condições de impor sua ordem cultural ao mais fraco.

CULTURA DOMINANTE E CULTURA DOMINADA

·         Para Marx e Weber, a cultura da classe dominante é sempre a cultura dominante; ao dizer isso eles não pretendem afirmar que a cultura dominante seja superior e que esta dominasse ‘’naturalmente’’ as outras culturas.
·         Na realidade, o que existe são grupos sociais que estão em relação de dominação ou de subordinação uns com os outros.
·         Sendo assim, uma cultura dominada não é necessariamente uma cultura alienada e totalmente dependente. O que acontece, é que ela não pode desconsiderar a cultura dominante ao longo de sua evolução – sendo a recíproca verdadeira, ainda que em menor grau.
·          Uma cultura dominante não pode se impor a uma cultura dominada como um grupo pode fazê-lo em relação a um grupo mais fraco.

AS CULTURAS POPULARES

Do ponto de vista das ciências sociais, duas teses unilaterais devem ser evitadas:
·         MINIMALISTA: defende que a única e “verdadeira cultura” seria a cultura das elites sociais, e as culturas populares seriam apenas seus subprodutos inacabados.
·         MAXIMALISTA: defende que as culturas populares seriam culturas autênticas, completamente autônomas e até mesmo superiores à cultura de elite.

Contudo, a realidade é bem mais complexa do que é apresentado por estas duas teorias extremas. Nem inteiramente autônomas, nem pura imitação, nem pura criatividade: Toda cultura particular é uma reunião de elementos originais e de elementos importados, de invenções próprias e de empréstimos.
·         Se uma cultura popular é obrigada a funcionar como cultura dominada, isto não impede que ela seja uma cultura inteira; baseada em valores e práticas originais que dão sentido à sua existência.

A METÁFORA DA BRICOLAGEM

·         É definida por Lèvi-Strauss (1962) como colagem, construção, conserto, arranjo feito com materiais diversos.
·         Foi usada para caracterizar o modo de criatividade próprio das culturas populares e das culturas imigradas, assim como dos novos cultos sincréticos do 3º mundo ou das sociedades ocidentais.
·         No caso das culturas negras na América a bricolagem permitiu preencher as lacunas da memória coletiva profundamente perturbada pela escravidão e pela transferência de local.
·         A bricolagem também pode ser feita de tédio, de trabalho forçado e do prazer da iniciativa, da obrigação e da liberdade.

A NOÇÃO DE CULTURA DE MASSA

O desenvolvimento dos meios de comunicação de massa acompanha a introdução cada vez mais determinante dos critérios de rendimento e de rentabilidade em tudo o que se refere à produção cultural.
·         Muitos autores dedicam suas análises à questão do consumo da cultura produzida pelas mass media. Dentre essas análises, conclui-se que há uma certa forma de nivelamento cultural entre os grupos sociais.
·         Dessa maneira, supõe-se que as mídias provoquem uma alienação cultural, uma aniquilação de qualquer capacidade criativa do indivíduo, que, dessa forma, não teria meios de escapar à influência da mensagem transmitida.
·         Contudo, não é porque certa massa de indivíduos recebe a mesma mensagem que esta massa constitui um conjunto homogêneo. Há uma certa uniformização da mensagem midiática, mas isto não nos permite deduzir que haja uniformização da recepção da mensagem.
·         Por mais “padronizado” que seja o produto de uma emissão, sua recepção não pode ser uniforme e depende muito das particularidades culturais de cada grupo – bem como da situação que cada grupo vive no momento da recepção.

AS CULTURAS DE CLASSE

·         A evidência da relativa autonomia das culturas das classes subalternas, levaram os pesquisadores a reconsiderar positivamente o conceito de cultura baseando-se em pesquisas empíricas e não mais em deduções filosóficas.
·         Os sistemas de valores, os modelos de comportamento e os princípios de educação variam sensivelmente de uma classe a outra.
·         No campo da alimentação, os hábitos ligados às tradições dos diferentes meios sociais são bastante estáveis, as práticas alimentares estão profundamente ligadas aos gostos que variam de classe para classe, com base a imagens inconscientes, a aprendizados e a lembranças de infância.

MAX WEBER E O APARECIMENTO DA CLASSE DOS EMPRESÁRIOS CAPITALISTAS

·         Max Weber (1864 – 1920) tenta demonstrar em sua obra “A ética e o espírito do capitalismo” que os comportamentos econômicos da classe dos empresários capitalistas são compreensíveis somente se levarmos em consideração a sua concepção de mundo e seu sistema de valores.
·         Mais do que a grande burguesia tradicional, a classe que vai desempenhar um papel decisivo no progresso do capitalismo moderno, é a média burguesia, classe em plena ascensão no começo da era industrial.
·         O que caracteriza esta classe média, segundo os próprios termos de Max Weber, é um “estilo de vida”, um “modo de vida”, novo ethos (novos costumes).
·         O ethos capitalista implica em uma ética da consciência profissional e uma valorização do trabalho como atividade que tem um fim em si mesma. O trabalho dá sentido à vida.
·         Max diz que os empresários que introduziram uma nova forma de comportamento são os protestantes puritanos que transformam o ascetismo religioso em um ascetismo secular.
·         Ele se opunha à tese do “materialismo histórico” que ele considerava “simplista”. Segundo esta tese, as idéias, os valores e as representações seriam apenas o reflexo ou a superestrutura, de situações econômicas dadas.

A CULTURA OPERÁRIA
·         As necessidades que orientam as práticas culturais dos indivíduos são determinadas pelas relações de produção. Estabelecem um vinculo entre a natureza do trabalho operária e as formas do consumo operário.
·         O sentimento freqüente de vinculação a uma comunidade de vida e de destino provoca uma bipartição fundamental do mundo social entre “eles” e “nós”. Esta bipartição se traduz por um grande conformismo cultural.
·         A “privatização” dos modos de vida operária se acentuou, com um forte recuo para o espaço familiar.
·         Segundo Jean-Pierre Terrail, as evoluções culturais que acompanham a entrada dos operários no que ele chama de “a era da abundância” são mais uma adaptação das antigas normal do que a adoção de novas normas tomadas do exterior.

A CULTURA BURGUESA

·         Ao contrário do mundo operário, a burguesia produz inúmeras representações de si mesma, representações literárias, cinematográficas, jornalísticas. Pretendendo conservar o domínio de sua própria representação, ela se defende cuidadosamente contra a curiosidade dos pesquisadores e de suas análises.
·         A burguesia enquanto indivíduo não se reconhecem como tal, recusam que os qualifiquem por este termo. A cultura burguesa é raramente uma cultura que as pessoas reivindicam e da qual se orgulham.
·         Beatrix Le Wita desenvolveu uma das primeiras abordagens etnográficas da cultura burguesa, ao fazer uma pesquisa principalmente sobre os colégios particulares católicos Sainte Marie de Paris e de Neuilly, e sobre as mulheres saídas destas instituições. Ela toma três elementos fundamentais para analisar a cultura burguesa: a atenção dada aos detalhes, em particular as vestimentas, o controle de si mesmas e a ritualização da vida cotidiana.

BOURDIEU E A NOÇÃO DE “HABITUS”

·         Pierre Bourdieu usa raramente o conceito antropológico de cultura, em seus textos o termo “cultura” é usado geralmente em sentidos mais restritos e mais clássicos ligados a “obras culturais”, aos produtos simbólicos socialmente valorizados ligados ao domínio das artes e das letras.
·         Para suas análises, as práticas culturais estão estreitamente ligadas à estratificação social.
·         Ele não foi propriamente o criador do termo “habitus”. O sentido da prática explica mais detalhadamente a concepção de “habitus”: “são sistemas de disposições duráveis e transponíveis. O hábitus é o que caracteriza uma classe ou um grupo social em relação aos outros que não partilham das mesmas condições sociais.
·         Bourdieu afirma que o “habitus funciona como a materialização da memória coletiva que reproduz para os sucessores as aquisições dos precursores”. Ele explica porque os membros de uma mesma classe agem freqüentemente de maneira semelhante sem ter necessidade de entrar em acordo para isso.
·         O habitus é também incorporação da memória coletiva, em seu sentido próprio. As disposições duráveis que caracterizam o habitus são também disposições corporais que constituem a “hexis corporal”.
·         A Pela hexis corporal as características sociais são de certa forma “naturalizadas”: o que parece e o que é vivido como “natural” depende, na realidade de um habitus.

Por Alessandra Cichoski e Danilo Teles