Novas fronteiras da cultura
Até pouco tempo a cultura era associada a grupos que ocupavam um espaço, a preocupação em marcar território era fundamental, e tudo o que vinha de fora era visto como impuro ou perigoso. Essa era a idéia de que cada povo tinha a sua cultura, sua língua, seus costumes, tendo seu território delimitado.
Como as pessoas viajam, a sua cultura, seu costume, sua idéia, sua língua também viajam, muitas vezes viajam através de livros, filmes, televisão e internet. Assim há uma espécie de “troca” de cultura, a gente se adapta a novos costumes, da mesma maneira as outras pessoas adaptam-se aos nossos costumes e a nossa maneira de viver. Assim acontece o processo de desterritorialização em que uma cultura originada em um determinado lugar migra para outro, e reterritorialização quando essa cultura se adapta e se integra em um novo lugar.
A culinária é uma das áreas da cultura que foi transportada de um país para outro pelos imigrantes. Como a pizza e as massas da Itália e o feijão comida utilizada pelos escravos.
No Brasil, há uma grande variedade de culturas, originadas de manifestações culturais que tiveram suas origens restritas a um grupo social.
As idéias também viajam, como o espiritismo kardecista, que surgiu na França mas se tornou mas influente e difundido no Brasil.
O positivismo também, que surgiu na França, mas foi muito mais importante no Brasil, e foi uma das forças ligadas a Proclamação da Republica, e deixou sua marca na nossa bandeira com o lema “Ordem e Progresso”.
A religião também foi transportada pelos imigrantes, como as religiões africanas, o Batuque,Candomblé, Xangô, Macumba, e depois o surgimento da religião Umbanda no século XX, combinando elementos africanos, kardecistas e católicos.
A música, como o rock que tem sua origem no Estados Unidos mas é difundida nos outros países, o jeans que surge na Califórnia como roupa para garimpeiros, e hoje o mundo inteiro usa. Os difundidos mais recentemente como os shopinng centers e fast-food.
A cultura está cada vez mais mundializada, o que antes era delimitado, agora seguem a globalização e não respeitam mais as fronteiras nacionais ou regionais.
Durante a fase populista, o que vinha de fora era visto como impuro e perigoso, assim a coca-cola e o cinema de Hollywood eram muitas vezes satanizados como exemplos de imperialismo cultural norte-americano, de maneira que o samba e o cinema novo era exemplos do que havia de mais autenticamente nacional.
As novas fronteiras da cultura em vez de fazer o sentido nacionalidade diminuir, o faz crescer, pois a criação de manifestações culturais mundializadas não significa que as questões locais estão desaparecendo. Ao contrário, a globalização torna o local mais importante do que nunca.
A consolidação da União Européia que ocorreu na virada do século XX, não significa , o desaparecimento da diversidade cultural, cada país continuará falando diferentes línguas, e se manterá a riqueza cultural de cada país, esses países apenas tiveram a integração de seus exércitos, a criação do euro, e a abolição de fronteiras econômicas e de mercado de trabalho.
Mas isso não significa que os conflitos étnicos e regionais tenham desaparecido.
Nos EUA o modo de vida norte-americano está hoje num momento em que os diferentes grupos étnicos reivindicam sua especificidade, esse processo faz com que não exista mais ninguém que seja apenas norte-americano, além dos descendentes dos primeiros anglo-saxões.a construção de novas identidades sociais dentro da identidade nacional significa a afirmação das diferenças em relação aos outros grupos e a não-aceitação de uma modo único de ser norte-americano.
Essas situações contraditórias pelas quais alguns países vêm passando, são resultados de uma série de processos que o mundo vem vivenciando. Nos últimos duzentos anos presenciou-se a formação de estados nação baseados na idéia de uma comunidade de sentimentos e interesses que ocupam um território delimitado e cuja as fronteiras, precisam ser cuidadosamente preservadas, o conceito de estado-nação está sendo afetado, na medida em que a velocidade de informação e dos deslocamentos se intensifica e faz com que as mudanças se acelerem cada vez mais. Desde as viagens marítimas da Idade Moderna havia troca de mercadorias entre um continente e outro, atualmente, estamos assistindo a globalização da economia.
Todos esse processos refletem no âmbito da cultura, com a velocidade da disseminação das mensagens estão se criando estilos de vida mundializados. Se antigamente as culturas eram tendiam a ser associadas a um território e a identidades definidas, o que se verifica hoje é um cruzamento das fronteiras culturais e simbólicas.
Esse processo de mundialização da cultura, que dá a impressão de que vivemos numa aldeia global, repondo a questão da tradição, da nação e da região. A medida que o mundo se internacionaliza, s diferenças se recolocam e há intenso processo de construção de identidades. Se antigamente o mundo se mostrou contrário a manutenção da diversidade, hoje assistimos a afirmação das diferenças.
A medida que o mundo fica “menor” ( as diversidades, não são mais tão diferentes, estamos nos tornando todos iguais), é difícil nos identificarmos com categorias genéricas, somos todos cidadãos do mundo, mas precisamos de marcos de referencia que estejam mais próximos de nós.
O Brasil já se encontra bastante integrado do ponto de vista político, econômico e tecnológico que é necessário repensar a questão da diversidade cultural, a rede de comunicação de massa seria a responsável pela acentuação da uniformização dos hábitos e atitudes da população se perdendo a diversidade cultural. Assistindo a crescente integração, a afirmação dos diferentes tipos de identidade, como a identidade regional salienta suas diferenças do resto do Brasil.
O RS é um exemplo, onde o termo gaúcho através de um processo de elaboração cultural compreende todos os seus habitantes, incluindo descendentes de imigrantes.
Hoje para os gaúchos, só se chega ao nacional através do regional, ou seja, para sermos brasileiros precisamos ser gaúchos.
Guilherme Howes & Jenifer Lasch
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