sábado, 14 de maio de 2011

Resenha do texto de Denys Cuche


Hierarquias Sociais e Hierarquias Culturais - Capítulo 5


                                                                           
DEFINIÇÃO DE CULTURA

·         Cultura não é uma herança que se transmite imutável de geração em geração, é uma produção e construção histórica das relações dos grupos sociais entre si.
·         Para analisar um sistema cultural é necessário analisar o contexto sócio-histórico.
·         Nascem de relações sociais que são sempre desiguais, resultando nas hierarquias sociais.
·         Todas as culturas merecem a mesma atenção, mas isso não significa que todas elas são reconhecidas como de mesmo valor.
·         Daí a necessidade de fazer uma análise “polemológica” das culturas: elas se desenvolveram na tensão e, muitas vezes, na violência.
·         Nas disputas culturais não é a lei dos mais fortes que está em jogo; por isso, é necessário evitar as interpretações de que o mais forte está sempre em condições de impor sua ordem cultural ao mais fraco.

CULTURA DOMINANTE E CULTURA DOMINADA

·         Para Marx e Weber, a cultura da classe dominante é sempre a cultura dominante; ao dizer isso eles não pretendem afirmar que a cultura dominante seja superior e que esta dominasse ‘’naturalmente’’ as outras culturas.
·         Na realidade, o que existe são grupos sociais que estão em relação de dominação ou de subordinação uns com os outros.
·         Sendo assim, uma cultura dominada não é necessariamente uma cultura alienada e totalmente dependente. O que acontece, é que ela não pode desconsiderar a cultura dominante ao longo de sua evolução – sendo a recíproca verdadeira, ainda que em menor grau.
·          Uma cultura dominante não pode se impor a uma cultura dominada como um grupo pode fazê-lo em relação a um grupo mais fraco.

AS CULTURAS POPULARES

Do ponto de vista das ciências sociais, duas teses unilaterais devem ser evitadas:
·         MINIMALISTA: defende que a única e “verdadeira cultura” seria a cultura das elites sociais, e as culturas populares seriam apenas seus subprodutos inacabados.
·         MAXIMALISTA: defende que as culturas populares seriam culturas autênticas, completamente autônomas e até mesmo superiores à cultura de elite.

Contudo, a realidade é bem mais complexa do que é apresentado por estas duas teorias extremas. Nem inteiramente autônomas, nem pura imitação, nem pura criatividade: Toda cultura particular é uma reunião de elementos originais e de elementos importados, de invenções próprias e de empréstimos.
·         Se uma cultura popular é obrigada a funcionar como cultura dominada, isto não impede que ela seja uma cultura inteira; baseada em valores e práticas originais que dão sentido à sua existência.

A METÁFORA DA BRICOLAGEM

·         É definida por Lèvi-Strauss (1962) como colagem, construção, conserto, arranjo feito com materiais diversos.
·         Foi usada para caracterizar o modo de criatividade próprio das culturas populares e das culturas imigradas, assim como dos novos cultos sincréticos do 3º mundo ou das sociedades ocidentais.
·         No caso das culturas negras na América a bricolagem permitiu preencher as lacunas da memória coletiva profundamente perturbada pela escravidão e pela transferência de local.
·         A bricolagem também pode ser feita de tédio, de trabalho forçado e do prazer da iniciativa, da obrigação e da liberdade.

A NOÇÃO DE CULTURA DE MASSA

O desenvolvimento dos meios de comunicação de massa acompanha a introdução cada vez mais determinante dos critérios de rendimento e de rentabilidade em tudo o que se refere à produção cultural.
·         Muitos autores dedicam suas análises à questão do consumo da cultura produzida pelas mass media. Dentre essas análises, conclui-se que há uma certa forma de nivelamento cultural entre os grupos sociais.
·         Dessa maneira, supõe-se que as mídias provoquem uma alienação cultural, uma aniquilação de qualquer capacidade criativa do indivíduo, que, dessa forma, não teria meios de escapar à influência da mensagem transmitida.
·         Contudo, não é porque certa massa de indivíduos recebe a mesma mensagem que esta massa constitui um conjunto homogêneo. Há uma certa uniformização da mensagem midiática, mas isto não nos permite deduzir que haja uniformização da recepção da mensagem.
·         Por mais “padronizado” que seja o produto de uma emissão, sua recepção não pode ser uniforme e depende muito das particularidades culturais de cada grupo – bem como da situação que cada grupo vive no momento da recepção.

AS CULTURAS DE CLASSE

·         A evidência da relativa autonomia das culturas das classes subalternas, levaram os pesquisadores a reconsiderar positivamente o conceito de cultura baseando-se em pesquisas empíricas e não mais em deduções filosóficas.
·         Os sistemas de valores, os modelos de comportamento e os princípios de educação variam sensivelmente de uma classe a outra.
·         No campo da alimentação, os hábitos ligados às tradições dos diferentes meios sociais são bastante estáveis, as práticas alimentares estão profundamente ligadas aos gostos que variam de classe para classe, com base a imagens inconscientes, a aprendizados e a lembranças de infância.

MAX WEBER E O APARECIMENTO DA CLASSE DOS EMPRESÁRIOS CAPITALISTAS

·         Max Weber (1864 – 1920) tenta demonstrar em sua obra “A ética e o espírito do capitalismo” que os comportamentos econômicos da classe dos empresários capitalistas são compreensíveis somente se levarmos em consideração a sua concepção de mundo e seu sistema de valores.
·         Mais do que a grande burguesia tradicional, a classe que vai desempenhar um papel decisivo no progresso do capitalismo moderno, é a média burguesia, classe em plena ascensão no começo da era industrial.
·         O que caracteriza esta classe média, segundo os próprios termos de Max Weber, é um “estilo de vida”, um “modo de vida”, novo ethos (novos costumes).
·         O ethos capitalista implica em uma ética da consciência profissional e uma valorização do trabalho como atividade que tem um fim em si mesma. O trabalho dá sentido à vida.
·         Max diz que os empresários que introduziram uma nova forma de comportamento são os protestantes puritanos que transformam o ascetismo religioso em um ascetismo secular.
·         Ele se opunha à tese do “materialismo histórico” que ele considerava “simplista”. Segundo esta tese, as idéias, os valores e as representações seriam apenas o reflexo ou a superestrutura, de situações econômicas dadas.

A CULTURA OPERÁRIA
·         As necessidades que orientam as práticas culturais dos indivíduos são determinadas pelas relações de produção. Estabelecem um vinculo entre a natureza do trabalho operária e as formas do consumo operário.
·         O sentimento freqüente de vinculação a uma comunidade de vida e de destino provoca uma bipartição fundamental do mundo social entre “eles” e “nós”. Esta bipartição se traduz por um grande conformismo cultural.
·         A “privatização” dos modos de vida operária se acentuou, com um forte recuo para o espaço familiar.
·         Segundo Jean-Pierre Terrail, as evoluções culturais que acompanham a entrada dos operários no que ele chama de “a era da abundância” são mais uma adaptação das antigas normal do que a adoção de novas normas tomadas do exterior.

A CULTURA BURGUESA

·         Ao contrário do mundo operário, a burguesia produz inúmeras representações de si mesma, representações literárias, cinematográficas, jornalísticas. Pretendendo conservar o domínio de sua própria representação, ela se defende cuidadosamente contra a curiosidade dos pesquisadores e de suas análises.
·         A burguesia enquanto indivíduo não se reconhecem como tal, recusam que os qualifiquem por este termo. A cultura burguesa é raramente uma cultura que as pessoas reivindicam e da qual se orgulham.
·         Beatrix Le Wita desenvolveu uma das primeiras abordagens etnográficas da cultura burguesa, ao fazer uma pesquisa principalmente sobre os colégios particulares católicos Sainte Marie de Paris e de Neuilly, e sobre as mulheres saídas destas instituições. Ela toma três elementos fundamentais para analisar a cultura burguesa: a atenção dada aos detalhes, em particular as vestimentas, o controle de si mesmas e a ritualização da vida cotidiana.

BOURDIEU E A NOÇÃO DE “HABITUS”

·         Pierre Bourdieu usa raramente o conceito antropológico de cultura, em seus textos o termo “cultura” é usado geralmente em sentidos mais restritos e mais clássicos ligados a “obras culturais”, aos produtos simbólicos socialmente valorizados ligados ao domínio das artes e das letras.
·         Para suas análises, as práticas culturais estão estreitamente ligadas à estratificação social.
·         Ele não foi propriamente o criador do termo “habitus”. O sentido da prática explica mais detalhadamente a concepção de “habitus”: “são sistemas de disposições duráveis e transponíveis. O hábitus é o que caracteriza uma classe ou um grupo social em relação aos outros que não partilham das mesmas condições sociais.
·         Bourdieu afirma que o “habitus funciona como a materialização da memória coletiva que reproduz para os sucessores as aquisições dos precursores”. Ele explica porque os membros de uma mesma classe agem freqüentemente de maneira semelhante sem ter necessidade de entrar em acordo para isso.
·         O habitus é também incorporação da memória coletiva, em seu sentido próprio. As disposições duráveis que caracterizam o habitus são também disposições corporais que constituem a “hexis corporal”.
·         A Pela hexis corporal as características sociais são de certa forma “naturalizadas”: o que parece e o que é vivido como “natural” depende, na realidade de um habitus.

Por Alessandra Cichoski e Danilo Teles

Nenhum comentário:

Postar um comentário