Há uma palavra que atualmente tem
estado no centro dos debates, frente aos eventos que tem convulsionado a
Europa. Se diz largamente que nossa sociedade tem que ser tolerante. Com isso
coloca-se a tolerância como um valor positivo, que deva ser preservado,
difundido e cultivado como enfrentamento e solução para as questões das
diferenças culturais. É preciso lembrar que quem tolera, apenas aceita a
presença do diferente, mesmo sem acolher suas peculiaridades, suas necessidades
e suas visões de mundo.
Historicamente o valor da tolerância
foi universalizado no século sétimo através de uma instituição islâmica
especificamente criada para tratar de minorias judaicas e cristãs dentro do
Islã. Quando Maomé institui o primeiro estado islâmico, depois dividido em
reinos e impérios, já havia judeus e cristãos. Em relação a eles, os muçulmanos
adotaram uma postura de tolerância, uma vez que os reconheciam como “povos do
livro”. Eram portanto os árabes que aceitavam e protegiam estes povos que
haviam se desviado da mensagem divina. Ali, ela significou um avanço.
Nos tempos de hoje, a tolerância
representa um retrocesso, pois aparece revestida de uma outra conotação. É um
discurso que justifica a exploração. Ela implica em aceitar o “outro”, porém o
reconhecendo como diferente de mim. Permitindo sua presença, o incluindo, porém
não o acolhendo em sua integralidade. É quase uma postura de piedade, de
permissão, de complascência. Por isso, a “tolerância” é um princípio burguês
típico de nosso capitalismo imperialista e espoliador. É um recurso discursivo
que autoriza fechar as próprias fronteiras, depois de ter se conduzido por
territórios alheios e os ter abandonado sem lhes pagar a conta.
O que não podemos mais é tolerar a
violência do capital contra as soberanias culturais. Ao invés de de lutar pela
piedade europeia que apenas promove a guerra entre o ocidente e o islamismo, as
potências dominantes deveriam entender que o verdadeiro perigo está nas
políticas empreendidas pelos seus governos no norte da África e no Oriente
Médio. A emancipação não depende da tolerância, mas da superação deste modelo
capitalista tão perverso em suas ações quanto em seus discursos.
Que saibamos nós, promover essa superação. O verbo é um forte aliado! Parabéns!
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