Costumeiramente sou chamado de utópico pelos que comigo conversam.
Amigos, alunos, professores, colegas, aqueles com quem compartilho minhas
alegrias, angústias, revoltas, realizações, visões de mundo, me criticam por
ter uma visão um tanto idealizada, de um mundo melhor. A todos respondo: não
sou utópico, sou realista. Sonho com um mundo diferente, melhor do que este.
Estamos diante da sociedade mais bárbara de toda nossa civilização.
Assitimos a uma aceleração do processo histórico nunca antes vivenciado. É o
que conhecemos por sociedade do espetáculo: uma infinidade de sons, imagens,
mensagens; um exagero de estímulos proporcionados pela hipercomunicação,
especialmente pelo marketing comercial, pelos eletrônicos com toda sua
parafernália de aplicativos. A superinformação que nos chega pelas diversas
mídias, não nos permitem sua decodificação a tempo de compreendê-las. Como
consequência, adoecemos fisica e mentalmente, nos deprimimos, nos medicamos, capitulamos
diante de tamanha hiperatividade.
Utopia é acreditar na possibilidade deste mundo em que vivemos. Na
verdade, é a distopia de uma sociedade de consumo, ancorada na perspectiva da
competição, em vez do compartilhamento; da aparência, ao invés da essência; da
possibilidade, ao invés da necessidade. Uma sociedade marcada pelo medo, ao
invés da esperança; pela pressa, ao invés da temperança; e pela fluidez, ao
invés da segurança. Vivemos a barbárie do capital, acreditando que não nos
restam alternativas, de que a ela não nos restam saídas.
Contra estes tempos bárbaros, verdadeiramente distópicos, que criaram
uma sociedade desarticulada e desconectada politicamente, o único remédio é a
retomada de princípios históricos inegociáveis e irrevogáveis capazes de
reorganizar as maneiras de viver coletivamente. É preciso trazer para o centro
da questão social o direito à comunicação e à informação. São imperativas mídias
mais democráticas e participativas, que não façam das vidas de todos nós um
espetáculo bárbaro para o consumo, mas um teatro em todos se sintam
protagonistas, e isto não é uma utopia.
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