Observo
frequentemente em conversas, debates, programas de tv, textos acadêmicos e
jornalísticos, as pessoas se perguntando ou questionando os outros, sobre quais
atitudes podem adotar como forma de enfrentar, ou mesmo superar este modelo
violentamente consumista, sob o qual estamos inseridos. Uns propõe o veganismo
ou o vegetarianismo, outros adotam modos de vida entendidos como sustentáveis,
a exemplo dos freeganistas, eco-anarquistas, ou de todos aqueles que apenas
rechaçam uma postura consumista, incorporando um estilo de vida mais
alternativo.
São posturas
extremamente válidas, no entanto é impossível pensar individualmente ou mesmo
em grupos isolados uma receita para o enfrentamento destas questões. A dinâmica
social capitalista possui caráter geral e coletivo. Desde o século 19
compreendemos o capital como uma relação social, e seu enfrentamento, portanto,
também o deve ser. Não pode ser uma atitude subjetiva, mas uma ação objetiva.
Cada atitude
de consumo implica uma relação social anterior e muito mais ampla do que sua
simples aparência. O conceito de “água virtual” pode ser um bom exemplo disto.
Produzir 1kg de carne bovina demanda 15 mil litros de água. Para 1kg de arroz
são necessários 2,5 mil litros, e para uma calça jeans, mais 10 mil litros. Água
que consumimos e não vemos. Ou seja, comer e vestir são atos políticos e não
individuais e subjetivos. Em cada produto que usamos ou comemos, estão
implicadas uma extensa rede de relações sociais sobre as quais nossas atitudes,
pretensamente coerentes e conscientes, não possuem nenhuma ingerência. Não é
portanto uma atitude apenas que reverterá todo processo.
Neste
sentido, a pergunta que não pode ser feita é: o que eu posso fazer? Mas sim, o
que nós, enquanto sociedade, podemos fazer? E o primeiro passo é ter clareza
sobre o que nós não queremos. De forma nenhuma podemos admitir a exploração de
uns seres humanos por outros. E de todos, uma exploração irresponsável do
ambiente natural. Somente assim, de forma coletiva e social, é possível pensar
no que cada um de nós pode fazer.