Neste
ano de 2015 o Conselho Nacional de Justiça publicou uma cartilha intitulada
“Pai Presente e Certidões”. Neste material, afirma que o registro civil e o
reconhecimento da paternidade estão entre os direitos básicos da cidadania
brasileira. Entretanto, este direito por vezes não se concretiza. Desde os
últimos censos, os dados apontam que perto de cinco milhões e meio de pequenos
brasileiros em idade escolar não possuem o nome do pai em seus documentos de
identidade.
Isto
nos leva a pensar que discute-se muito no Brasil a questão do aborto, porém
pouco se analisa os dados concretamente. Pelo Código Penal Brasileiro o aborto
é considerado um crime contra a vida humana, penalizando principalmente
mulheres gestantes que o provocarem ou o consentirem. Existem aqueles que
defendem a ideia de que o aborto não é um assunto propriamente jurídico, mas de
saúde pública, uma vez que segundo os dados da Secretaria de Políticas para as
Mulheres, vinculada ao Ministério da Saúde, o aborto realizado de forma
clandestina está entre as maiores causas de morte de mulheres em idade
reprodutiva.
Quando
um pai não registra seu filho ele não só comete um crime contra a cidadania,
como contribui para a naturalização com que tratamos a questão. Cada documento
de identidade onde o nome do pai está ausente é uma uma certificação do Estado
brasileiro de que o aborto é permitido e largamente praticado no país. Mas ele
é masculino. Se o aborto feminino deve ser tratado como uma questão de saúde
pública, o aborto masculino – aquele que isenta o pai dos compromissos com a
criação dos filhos, deveria, este sim, ser tratado como uma questão penal.
Vivemos
em uma sociedade masculina demais, onde aos homens é permitido todo tipo de
apropriação sobre o corpo das mulheres. Proibir que as mulheres decidam e
deliberem sobre seus corpos e mentes, enquanto se faculta aos homens o direito
de abortar socialmente a criação dos seus filhos, é concordar com uma lei que
os trata distintamente. Discutir o aborto é uma necessidade política, e nela
todos tem os mesmos direitos.
Parabéns pelo excelente texto e reflexão querido amigo !
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