Hoje está sendo um dia de manifestações em todo o
Brasil. Há tempos não se via tamanha vontade popular de lutar e resistir. Ao
que parece, pode ser um primeiro passo em direção ao rescenso das massas no
sentido da sua autonomia intelectual, de sua autodeterminação, pode ser só o
começo da retomada de seu protagonismo de lutas e militância.
É bem verdade que entre 2013 e em 2016 a população foi
às ruas, mas naquele momento o que os impelia não eram suas consciências
propriamente ditas; eram, em verdade, estímulos externos, a maior parte deles
impulsionados pelos “think tanks”, os tanques de cérebros, repositórios
intelectuais de ideias contrárias aos ideais populares. No limite, eles foram e
são as organizações por trás da guinada da direita na América Latina, guiada
por ideais e interesses neoliberais e contrários aos mais pobres, aos
trabalhadores, em especial aos mais jovens.
Não é de se estranhar que o reascenso de agora tenha
seu germe na Educação. É ela o setor mais castigado pelas crueldades do novo
Governo.
Foi entre 2005 e 2012 que o Ministério da Educação promoveu
expansão e interiorização do ensino superior. Dessa forma, foram criadas 18
universidades federais, foram construídos 173 campi universitários, foram
construídos 360 institutos técnicos federais, foram concedidas dois milhões de
bolsas do ProUni, foram financiados dois milhões e meio de pobres que não
tinham como entrar na universidade, senão pelo FIES. Tudo isso permitiu aos
jovens, principalmente os mais pobres, sonhar e efetivamente participar como
protagonistas da produção de conhecimento e da divisão sociotécnica do
trabalho.
Ora, basta observar as datas! Essa ascensão social
promovida pela Educação pôs em pânico a classe média conservadora. Detentora
histórica do capital simbólico promovido pelo conhecimento, a classe média
higienizada se viu dividindo o espaço que julgava exclusivamente seu com as
filhas e filhos das empregadas domésticas, dos pedreiros, dos mais pobres; se
viu competindo no mercado de trabalho com gente que até então lhe servira como
subordinado e subserviente. Foi isso que a fez servir de tropa de choque, massa
de manobra do processo que culminou no golpe de 2016.
Se é momentaneamente mais difícil a luta contra o
poder econômico, cuja manutenção pertence à “Elite do Atraso” nas palavras do sociólogo
Jessé Souza, a luta pela democratização do conhecimento é a pauta possível e mais
urgente da agenda política do momento. Setores populares da sociedade brasileira,
e em especial os jovens, são os que mais se beneficiam dos investimentos em
educação. É por essa razão que são eles que estão hoje no pelotão de frente da
resistência. Que seja só o começo!
Publicado no Jornal Diário de Santa Maria, por conta dos protestos em favor da educação e contra os cortes do governohttps://diariosm.com.br/colunistas/sociedade/%C3%A9-s%C3%B3-o-come%C3%A7o-1.2141453
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