O grau de violência de
uma sociedade está diretamente determinado pelo nível de desigualdade que a
constitui. Em uma sociedade onde existe alta concentração da propriedade
privada e, portanto, da renda, e sua consequente alta desigualdade social e
econômica, implica níveis de violência que exorbitam na forma de violação de
direitos, crime organizado, violência urbana e violência doméstica. Defender
que violência se combate coma mais violência, ou armando as pessoas, significa
não agir na raiz do problema, mas alimentar ainda mais um sistema em crise.
Pessoas armadas matam
pessoas e aumentam o grau de violência, sobretudo em uma sociedade desigual. No
brasil, por exemplo, por ano, mais de 40 mil pessoas são mortas por armas de fogo,
número que coloca o País em primeiro lugar do ranking mundial de mortalidade
por armas publicado pelo Global Burden Disease, órgão da Organização Mundial da
Saúde que pesquisa as causas de morte pelo mundo.
O atual governo
brasileiro defende e fomenta o uso de armas de fogo. É uma posição homicida! Os
meios de comunicação, diante disso, buscam mostrar o atual quadro, como um
cenário de polarização. Criam a ideia de uma simetria entre dois lados idênticos
e opostos. Em um deles, ideais historicamente burgueses como a inclusão, a
diversidade, a tolerância e a ascensão das lutas populares; de outro, ideais
supremascistas como a xenofobia, a intolerância às lutas sociais e pautas
identitárias, e o mais extremista e perigoso deles, pois recrudesce todas a
outras, o culto às armas. Faz isso equivocadamente, como se a violência fosse
uma questão meramente individual e não uma questão social, de segurança pública
e coletiva, no quadro de uma sociedade injusta e desigual.
Não há polarização. Na
tentativa de parecer isenta e imparcial a mídia hegemônica apresenta um cenário
de falsa simetria. Só um dos lados cultua a violência explícita e ensina
criancinhas em palanque público a imitar, inocentemente, armas de fogo com as
mãos! O contraste não é de esquerda contra direita, conservadores contra
progressistas, mas concretamente de civilização contra a barbárie.
Armas matam pessoas e
colocar a questão armamentista como um lema de governo mostra o grau de
violência e insanidade sob o qual a sociedade brasileira está sujeita. Mas isso
não mais nos surpreende. Vivemos num lugar em que o comandante da Nação
declarou publicamente em 1999 que, para resolver os problemas do País, só
“matando uns trinta mil”, as dez mortes trágicas na escola de Suzano nos levam
a concluir que ainda faltam 29.990 pessoas. Só resta torcer para que não
sejamos uma delas!
Publicado no Jornal Diário de Santa Maria, edição de 20 de março de 2019.
https://diariosm.com.br/colunistas/sociedade/armas-matam-pessoas-1.2130320
Publicado no Jornal Diário de Santa Maria, edição de 20 de março de 2019.
https://diariosm.com.br/colunistas/sociedade/armas-matam-pessoas-1.2130320