Por duas vezes, na história do nosso país, assistimos à
falsa construção de um inimigo perigoso, sempre com a finalidade de entregar as
riquezas nacionais a interesses do grande capital. A primeira delas, o governo
Getúlio forjou a ameaça comunista para justificar seu golpe de Estado; na
segunda, os militares mais conservadores e entreguistas lideraram uma tomada de
poder fundando seu discurso na mesma justificativa. Hoje passamos por um
processo muito parecido, com a mesma retórica e a mesma finalidade, a de
proteger a pátria, dos comunistas.
Segundo o jornalista Breno Altman, o crescimento da
narrativa anticomunista já cresce desde alguns anos, é um problema estrutural
da periferia do capital. As relações de trabalho nesses países estão assentadas
numa brutal superexploração do trabalho. São sociedades que se construíram na
base da escravidão e na pressão gigantesca contra o povo. As burguesias
enriqueceram pagando salários baixíssimos, quase nenhum direito social, e com
alta isenção fiscal e de impostos. Não suportam o discurso que as denuncia. Reagem
com um discurso fortemente reacionário, que
explicitamente demonstra a dificuldade delas em conviver com os direitos dos
trabalhadores e com a democracia.
A demonização agora escora-se sobre um partido. Quando ele
surge, mesmo sem ser revolucionário ou radical; e propõe aumento progressivo de
salário, em especial o salário mínimo; expande direitos sociais, serviços
públicos, e vai melhorando as condições de vida de grandes massas do povo, ele
ameaça medularmente essas elites. Surge
também criando barreiras à super-exploração do trabalho, a exemplo da lei do
trabalho doméstico no Brasil. As elites deste país não suportam essas reformas,
as veem como ameaçadoras. Elas podem até mesmo tolerá-las por um tempo, enquanto
encontram alguma compensação, mas quando vem uma crise e essas compensações
deixam de existir, as burguesias querem liquidar governos reformistas desse
tipo, para que possam voltar à selvageria.
Nessas situações precisam criar uma imagem demoníaca
desses governos. Elas recorrem então ao imaginário que elas próprias criaram no
passado, que é taxar esses governos de comunistas, de corruptos e inimigos da
pátria, Elas recorrem ao seu velho arsenal! Quem defende tudo isso, no entanto,
não é nacionalista ou patriota, mas um entreguista patrioteiro. Patriota é
defender, de fato, a soberania do povo, a valorização do trabalho, um país
ativo e altivo e não uma sociedade explorada, genuflexa e subjugada aos interesses
internacionais.
Publicado no Jornal Diário de Santa Maria em 28 de novembro de 2018
https://diariosm.com.br/colunistas/sociedade/patriotas-ou-patrioteiros-1.2110176
Nenhum comentário:
Postar um comentário