quinta-feira, 29 de novembro de 2018

Ele soa como nós


No último domingo elegemos pelo voto direto, aquele que será o governante máximo da nação. Este governante, de acordo com a democracia representativa, é quem tem a função de expressar e dar voz à sociedade que o elegeu. Assim, ele sintetiza e condensa tudo que somos ou pensamos ser, nossas formas de agir, pensar e sentir, como indivíduos ou como sociedade. No limite, deve soar como um de nós!
Somos racistas, como podemos verificar no Atlas da Violência 2017. A população negra corresponde à maioria dos indivíduos com mais chances de serem vítimas de homicídios. No mesmo sentido, as pessoas negras são a maioria no sistema carcerário do país. Somos misóginos e a prova disso é que foi preciso criar leis de proteção específica às mulheres; a exemplo da Lei Maria da Penha, de 2006, que criminalizou a violência doméstica e a Lei 13.104/2015, que mostrou ser necessário tratar o feminicídio crime hediondo. Somos também homofóbicos, como mostram os dados do Grupo Gay da Bahia. Um ou uma LGBTs é morto ou morta a cada 19 horas no Brasil. É uma chacina diária pela peculiar condição de sua sexualidade não convencional.
Nosso trânsito é a expressão do quanto somos violentos, corruptos e agimos de forma persistente e contumaz ao arrepio da lei. Somos o quinto país em mortes no trânsito no mundo. Só no último ano foi perto de 50 mil mortes, 130 vidas por dia, equivale à queda de um Boeing por dia. Segundo a PRF as principais causas das mortes no último ano são falta de atenção, velocidade incompatível, ingestão de álcool, desobediência à sinalização, ultrapassagens indevidas. Ou seja, não respeitamos a nós nem aos outros, não damos valor nem à própria vida!
Portanto, de fato elegemos um sujeito e um projeto de país que é nosso próprio reflexo como sociedade. Nas palavras do historiador David Duke, ligado à organização supremacista estadunidense Ku Klux Klan, o nosso futuro chefe da nação soa como um deles, estadunidenses; mas isso porque ele não conhece a nossa sociedade brasileira; se conhecesse, então saberia que suas palavras também fazem muito sentido por aqui, pois ele soa, muito mais, como um de nós!


Publicado no dia 31 de outubro de 2018 no Jornal Diário de Santa Maria
https://diariosm.com.br/colunistas/sociedade/ele-soa-como-n%C3%B3s-1.2104708

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