sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Receita de ano novo

Multiplicam-se, por esses dias, mensagens de otimismo e renovação, todas elas ancoradas em uma tal esperança de ano "novo". Levadas ao limite, chega-se a falar em uma tal "noite da virada"!
Pensando sobre tudo isso, fico me questionando sobre o que há de novo? O que irá se renovar dentro de alguns dias? Que virada é essa?
Circula na web um texto falsamente atribuído a Carlos Drummond de Andrade dizendo que quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial. Industrializou a esperança fazendo-a funcionar no limite da exaustão. Diz o autor desconhecido que doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos. Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez com outro número e outra vontade de acreditar que dali para adiante vai ser diferente.
Como em um passe de mágica, acredita-se que da noite do dia 31 para o dia primeiro, haverá um verdadeiro e novo tempo começando, e que em nada depende de nós esta mudança. No entanto, na manhã do novo ano, efetivamente, nada terá mudado. Continuaremos transitando nas ruas esburacadas e obras inacabadas, com os salários parcelados e 13º emprestado, e assistindo na TV à campanha temerária e criminosa da Reforma da Previdência, essa será uma verdadeira virada contra os trabalhadores.
Convém lembrar que o calendário ocidental é uma invenção burguesa muito recente. Consagra rituais imperialistas e estranhos que nada mais produzem a não ser mais e mais alienação na esperança de um recomeço que nunca há. Ele é o símbolo de um capitalismo exangue e espúrio.
Drummond, na verdade, escreveu Receita de Ano Novo. Diz ele que para ganhar um Ano Novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo novo. Nesse sentido, ano novo é todo dia, a cada conquista política e social, quando garantimos nossos direitos, quando asseguramos condições melhores de vida. Eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, de forma consciente. É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre.

Publicada em 27?12/2017
http://diariosm.com.br/colunistas/sociedade/receita-de-ano-novo-1.2036023

Refazendo a conta da Previdência



Tenho ouvido em uníssono vozes de jornalistas, políticos, intelectuais, convergindo para a necessidade incontestável da Reforma da Previdência. Ela deve ser enviada para votação na Câmara dos Deputados em fevereiro. Grassa como verdade a ideia de que a Seguridade Social está quebrada. Soma-se a isto a campanha criminosa do governo e meios de comunicação que tenciona convencer a população de todo esse ideário. 
No Artigo 194 da Constituição, a Previdência compõe junto com a assistência e a saúde o tripé da Seguridade Social. No Artigo 195, diz que seria financiada pelos trabalhadores e empregadores, contribuição das empresas e de toda sociedade sobre o consumo, o COFINS, loterias e importações.
De tal maneira que quando calculamos honestamente, computando todas as contribuições que financiam a Seguridade Social e todas as despesas da Saúde, Previdência e Assistência, apura-se uma sobra de recursos da ordem de dezenas de bilhões de reais. Isso mesmo, ela dá lucro! O déficit que o governo apresenta é fabricado. Considera apenas as contribuições sobre a folha e deixa de lado todas as outras. É uma conta distorcida que fere a própria Constituição.
Maria Lucia Fattorelli, auditora fiscal da Receita Federal, lembra que a prova desse superávit da Seguridade Social é a DRU, Desvinculação de Receitas da União, que retira 30% da Seguridade Social e destina a outras áreas. Sobra tanto recurso que o governo retira dela uma fortuna! Em verdade, as saídas seriam combater a sonegação de devedores como grandes bancos e grandes empresas, revisão da desoneração fiscal de setores como o agronegócio e o setor empresarial.
Tudo isso é tão óbvio que carece de um esforço descomunal para escondê-lo. Serve a interesses que estão por trás do poder político e lucram com essa reforma. O mais triste é assistir a todo esse movimento como se ele trouxesse benefícios à sociedade. Não traz! Pelo contrário, devasta garantias sociais. A voz que se ouve em uníssono ecoa mentiras que interessam ao governo e ao Congresso, esta sim, a verdadeira caixa de ressonância dos piores interesses oligárquicos possíveis, que não são os nossos, dos trabalhadores.
Publicado em 25/01/2018
http://diariosm.com.br/colunistas/sociedade/a-conta-da-seguridade-social-1.2040172