Ao longo dos séculos 18 e
19, o “Porto de la Grève”, situado às margens do rio Sena, tornou-se o coração
comercial de Paris. Formou-se em seu entorno um grande mercado por onde chegavam
bebidas, grãos, feno, madeira, fazendo deste lugar um dos mais populares
daqueles tempos. Tinha esse nome pois ficava à frente de uma praça chamada
"Place de Grève". “Grève”,
em francês, quer dizer lugar plano, pedregoso ou arenoso situado às margens do
mar ou de um curso de água.
Com o tempo a praça
passou a abrigar também muitos operários, que ao amanhecer, reuniam-se à espera
de trabalho. Eram no geral pessoas precarizadas pelo crescente desemprego. É
desse contexto social que a expressão “greve” remete a trabalhadores paralisados
em sua atividade laboral. Ainda no Medievo, a "Place de Grève"
servira para torturas e execuções públicas; foi nela também que pela primeira
vez em 1792 a guilhotina foi acionada.
Estar hoje “em greve”
significa, portanto, presentificar uma história perversa. Os dramas sociais
vividos na "Place de Grève" só podem ser compreendidos pelos dramas
do nosso tempo. Ir “à greve” hoje é
resistir ao Projeto de Lei do Senado 409/2016 que teve parecer favorável neste
mês pela Comissão da casa e pode virar lei. Ele põe fim à Lei 11.738 que regula
o Piso Nacional do magistério. Permitirá que a União, Estados e Municípios
possam reduzir os percentuais de correção dos salários na Educação.
O senador Dalírio Beber
(PSDB/SC), autor do Projeto, perversamente culpa os professores pelos gastos
públicos enquanto atende às ordens da classe empresarial e do sistema
financeiro. Ignora os juros da dívida pública pagos pelos Governos, verdadeiro
ralo por onde escoa o dinheiro público. Pelo seu Projeto, os professores
estarão sujeitos a reajustes dos salários pelo menor índice possível. Diante
disso, a única atitude digna e legítima é ocupar o terreno árduo de uma greve; ou
se sujeitar à guilhotina de receber seu salário em parcelas.
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