sexta-feira, 8 de setembro de 2017

A nitroglicerina de Marx

Dentro de alguns dias, na terceira semana deste mês de setembro se completarão 150 anos da publicação da maior obra de Teoria Social da contemporaneidade. Neste mesmo 2017 também é celebrado o sesquicentenário de uma invenção tanto engenhosa quanto explosiva. Enquanto Karl Marx concluía em Londres O Capital e enviava para sua publicação em Hamburgo, perto dali Alfred Nobel misturava nitroglicerina aos seus explosivos tornando a substância mais estável e segura de ser manipulada. Há 150 anos aparecia para o mundo, a clara possibilidade da implosão de todas as formas de exploração ou de explodir em chamas pela estupidez de seus exércitos.
É irônico pensar que o inventor da dinamite, uma substância destruidora, dê nome hoje a um prêmio dedicado à paz; é também irônico pensar que o criador de uma Teoria Social que mostrava aos homens as cadeias mais radicais de opressão seja pintado com tantos matizes enviesados. O certo é que nenhum dos dois pode ser culpado pelos destinos que se deram às suas obras. A dinamite contribuiu decisivamente para a civilização revolucionando a técnica da explosão de minas, a construção de túneis e estradas, mas também mudou a sorte das guerras, violentamente. O Capital, por sua vez, é a substância teórica necessária para a implosão de um sistema crítico, finito e esgotado que cada vez mais se arrasta para a barbárie; entretanto, muitas vezes, foi usado como sua justificativa.
A dinamite e O Capital parecem essencialmente opostos, mas não são. A capacidade explosiva da dinamite é diretamente proporcional à capacidade implosiva d’O Capital. A nitroglicerina de Marx, isto é, aquilo que acrescentou às teorias sociais que explicavam utopicamente as contradições da sociedade, é também o mesmo elemento que tornou sua teoria social a única capaz de implodir o bárbaro sistema social vigente. Demoramos um século e meio para perceber, mas nunca é tarde!

Esta data é apenas um ponto em uma longa trajetória que não é linear, mas ela própria dialética. Rara registrar este ponto o Grupo Kairós promove o Curso de Extensão abaixo disposto.
O Capital completo em http://marxismo21.org/150-anos-de-o-capital/
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sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Sobre ovos e socos

Nos últimos dias, muito se tem debatido sobre a agressão sofrida pela professora Marcia Friggi dentro da escola em que trabalha no município de Indaial, no Vale do Itajaí, que teve seu rosto dilacerado e por ela mesma exposto em suas redes sociais. A postagem denuncia a violência e também escancara a misoginia e estupidez que caracterizam nossos tempos bárbaros.
Em postagens anteriores, a professora Márcia aplaudia o arremesso de ovos ao prefeito de São Paulo no início do mês em Salvador. Para muitos, os socos deferidos contra a professora equivalem-se aos ovos arremessados ao prefeito. É como se dissessem: “se ela apoiou uma agressão praticada não pode reclamar de uma agressão sofrida”.
Acontece que os dois eventos são radicalmente opostos. A agressão praticada contra João Dória é muito mais simbólica do que física. Jogar alimentos em figuras públicas é uma tradição política verificada desde a Roma Antiga, passando pelo Medievo e chegando até nossos tempos. Os Ingleses do século 19 costumavam jogar ovos, tomates, tortas, farinha e outros alimentos em políticos. É muito mais uma forma de escracho de teor moral do que um achaque que vise à degradação física.
Dessa forma, não se pode igualar as duas formas de agressão. Os socos deferidos covarde e cruelmente contra uma professora mulher por um aluno homem, embora um menino, demonstram tanto a fragilidade da figura feminina em uma sociedade misógina, quanto a degradação histórica da educação como mero produto sujeito às normas do mercado. Ao contrário, os ovos jogados no prefeito homem, rico empresário, rodeado de assessores e empoderado pelo cargo que ocupa, são um protesto simbólico.
Os hematomas no rosto da fragilizada professora Marcia e o terno importado sujo de ovo do “prefake” engomado expressam as complexas e radicais assimetrias de uma sociedade desigual, que muitos não entendem e ingenuamente pensam que sejam a mesma coisa!
Publicado no Jornal Diário de Santa Maria em 30 de agosto de 2017
http://diariodesantamaria.clicrbs.com.br/rs/geral-policia/noticia/2017/08/sobre-ovos-e-socos-9883436.html