Vivemos
em um país difícil de explicar. Parece haver por aqui uma tendência histórica a
mover os acontecimentos de forma inexplicável. Quem bem captou este traço da
nossa cultura foi Ariano Suassuna, em sua peça teatral "Auto da
Compadecida", quando a personagem covarde e mentirosa, Chico Chicó, diante
das dificuldades de explicar os acontecimentos, apenas afirmava “não sei dizer
como foi, só sei que foi assim! ”
Assim
será, para as gerações futuras, explicar o atual momento que vivemos em nossa
política. Estamos diante da votação do impedimento da Presidente da República, um
agente público que não responde por nenhum processo diretamente dirigido contra
ela, e que terá votado seu impedimento por outros agentes, igualmente públicos,
mas que, de forma inacreditável e inexplicável, respondem a processos por
improbidades e irregularidades.
O
professor de História da América da Universidade Estadual de Campinas Leandro
Karnal afirma que vivemos num país de “impossibilidades ilimitadas”, e de
difícil compreensão e explicação. Por aqui, a Independência foi feita por um
príncipe português, de quem éramos dependentes; cuja proclamação da República
foi feita por Deodoro da Fonseca, um monarquista histórico; cuja revolução
anti-oligárquica de 30 foi levada a cabo por um dono de fazendas oligarca, que
foi Getúlio Vargas; a redemocratização da ditadura feita por um líder do
partido da ditadura, que foi Sarney; e a implementação de um Estado Liberal foi
consolidada por um operário socialista, que todos sabemos quem é. Ou seja, é um
país cuja explicação foge a qualquer senso lógico.
Da mesma
forma, se em 1964, o golpe perpetrado contra o governo ficou conhecido como
“civil-militar”, desta vez não há uma nomenclatura facilmente explicável. Quem
investe contra o Estado é o próprio Estado. A tentativa de derrubar o Governo
parte do próprio vice-presidente, passa pelo Poder Judiciário e se espraia na
Câmara dos Deputados e no Senado Federal. Se no futuro tentarmos explica-lo,
teremos de fazer como Chico Chicó, e dizer: não sei dizer como foi, só sei que
foi assim!
Publicado no Jornal Diário de Santa Maria (12/04/2016)
Porém, o impeachment é muito fácil de explicar. O governo tornou-se impopular devido a muitos fatores, econômicos, políticos, éticos, se protocolam processos de impeachment. E a câmara de deputados, consciente da impopularidade do governo, se coloca a favor do impeachment. Mesmo que o senhor ache inacreditável e inexplicável, um impeachment protocolado por improbidade ou irregularidades, o PT já protocolou 50 impeachments assim, como a do então presidente Fernando Henrique, em 1999, no início do segundo mandato. A acusação dizia que o FH havia cometido crime de responsabilidade na execução do Proer, o programa de estímulo à reestruturação do sistema financeiro nacional.
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