Quando
afirmamos que algo é simbólico pensamos estar-nos referindo a algo abstrato,
imaterial, sem uma relação direta com a realidade concreta. No entanto, não é
bem assim. A expressão “simbólico” é uma junção do prefixo sin, que remete à confluência, conjunção; e do radical bollé, que vem do grego, e significa
matéria. Portanto, tudo que é simbólico em uma sociedade é justamente aquilo
que carrega consigo toda concretude e toda materialidade convergidos em
elementos socialmente construídos. É aquilo que sintetiza concretamente, tudo
que o determinou ser como tal.

O
governo atual não prejudica nenhum grupo econômico, nenhum monopólio, nenhuma
megacorporação, nenhuma oligarquia. O que temos posto é a intolerância de
classe. O que está em questão não é nem a presidência nem mesmo o próprio
governo como um todo, mas a figura simbólica do ex presidente extremamente
envolvido em manobras que não consegue explicar licitamente. Contra ele a
justiça de classe, elitista e reacionária irá se abater com toda sua ira e seu
poder.
Não
nos deixemos enganar pela espuma que boia na superfície do rio remexido, mas
nos concentremos nos movimentos profundos do rio caudaloso que faz emergir
aquela espuma. O golpe em marcha não é pelo governo, mas pelo poder simbólico
que as elites conservadoras buscam retomar. (Publicado parcialmente na Zero Hora dos dias 03 e 04 de abril de 2016 no espaço Opinião do Leitor).