sexta-feira, 18 de março de 2016

Medo e decepção

No início dos anos 2000 o Brasil elegia seu primeiro governante cujas origens eram diferentes de todas as que lhe haviam precedido. O slogan daquela campanha era o de que a esperança houvera vencido o medo. Havia no país um clima de euforia, de renovação e o sentimento de que finalmente tínhamos encontrado o rumo certo.
Mas em que consistia esta esperança? Ora, na expectativa de que o novo governo implantaria reformas estruturais profundas, no sentido de mitigação das desigualdades, de combate à fome, de inserção econômica de populações historicamente desfavorecidas, de moralização, de uma verdadeira ascensão dos “de baixo”, para usar uma expressão do sociólogo Florestan Fernandes. Por contraste, o medo que houvera sido vencido pela esperança, era uma uma referência à superação do receio de parte da população brasileira de uma extrema virada à esquerda. De que um governo menos dependente das elites econômicas pudesse mexer em estruturas nunca antes tocadas, na propriedade, na distribuição de renda, no fim de privilégios, na ampliação de direitos sociais e da soberania popular.
Nem uma coisa nem a outra. Aquilo a que muitos temiam sequer iniciou. A distribuição de renda nunca passou de insipientes programas de governo que nunca se institucionalizaram, o bolsa família, por exemplo, não passa de 1% do PIB. Aparelhou-se a máquina pública em detrimento da classe trabalhadora, constituíram-se alianças espúrias idênticas às que historicamente marcaram nossa história nacional, mantiveram-se os compadrios e os conchavos com a burguesia subalterna nacional, atendendo aos ditames do capital financeiro internacional. A decepção venceu a esperança!

Cá estamos nós, estupefatos. Incrédulos frente aos acontecimentos que nos colocam diante da incerteza e do medo. Novamente o medo, porém agora renovado e reaceso diante do perigo assustadoramente danoso de as velhas elites conservadoras reassumirem o poder. Aqueles em quem o país depositou as esperanças não souberam se conduzir no poder. O medo agora, e pontualmente este é o risco, é de que uma população decepcionada faça as piores escolhas. (Publicado no Diário de Santa Maria. Opinião: em 18 de março de 2016)

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