No início dos
anos 2000 o Brasil elegia seu primeiro governante cujas origens eram diferentes
de todas as que lhe haviam precedido. O slogan daquela campanha era o de que a
esperança houvera vencido o medo. Havia no país um clima de euforia, de
renovação e o sentimento de que finalmente tínhamos encontrado o rumo certo.
Mas em que
consistia esta esperança? Ora, na expectativa de que o novo governo implantaria
reformas estruturais profundas, no sentido de mitigação das desigualdades, de
combate à fome, de inserção econômica de populações historicamente
desfavorecidas, de moralização, de uma verdadeira ascensão dos “de baixo”, para
usar uma expressão do sociólogo Florestan Fernandes. Por contraste, o medo que houvera
sido vencido pela esperança, era uma uma referência à superação do receio de
parte da população brasileira de uma extrema virada à esquerda. De que um
governo menos dependente das elites econômicas pudesse mexer em estruturas
nunca antes tocadas, na propriedade, na distribuição de renda, no fim de
privilégios, na ampliação de direitos sociais e da soberania popular.
Nem uma coisa
nem a outra. Aquilo a que muitos temiam sequer iniciou. A distribuição de renda
nunca passou de insipientes programas de governo que nunca se
institucionalizaram, o bolsa família, por exemplo, não passa de 1% do PIB. Aparelhou-se
a máquina pública em detrimento da classe trabalhadora, constituíram-se
alianças espúrias idênticas às que historicamente marcaram nossa história nacional,
mantiveram-se os compadrios e os conchavos com a burguesia subalterna nacional,
atendendo aos ditames do capital financeiro internacional. A decepção venceu a
esperança!
Cá estamos
nós, estupefatos. Incrédulos frente aos acontecimentos que nos colocam diante
da incerteza e do medo. Novamente o medo, porém agora renovado e reaceso diante
do perigo assustadoramente danoso de as velhas elites conservadoras reassumirem
o poder. Aqueles em quem o país depositou as esperanças não souberam se
conduzir no poder. O medo agora, e pontualmente este é o risco, é de que uma
população decepcionada faça as piores escolhas. (Publicado no Diário de Santa Maria. Opinião: em 18 de março de 2016)
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