Tenho ficado
espantado com algumas palavras que tem aparecido no vocabulário relacionado ao
trabalho contemporâneo. O cooperativismo, o empreendedorismo, o trabalho
voluntário, e o trabalho virtual. Todas elas são formas atenuadas de denominar
uma relação social bem mais profunda: o próprio trabalho, velho conhecido, que
aparece menos evidente, mas nunca invisível quando matizado com novos tons pela
sociedade capitalista mercantil.
Um trabalhador não é
necessariamente um sujeito formalmente
vinculado a um contrato de trabalho com uma empresa. Ser trabalhador hoje é
necessitar vender sua capacidade laboral e criativa para consumir e existir.
Ser trabalhador, na gramática do capital, é possuir a pseudo liberdade de
escolher, ou a ilusão de não se submenter a ele, podendo entrever, nesta
relação, a riqueza da liberdade, mas estar escravizado sob o fardo da
necessidade.
O grande desafio do
trabalho hoje é realizá-lo dentro de uma dinâmica social que nos amortece, nos
angustia, nos fragiliza, pois o capitalismo não é só uma relação econômica, mas
uma forma cultural que nos reduz a seres do capital, incluindo todo o conjunto
da nossa existência. Isto é, como nos vestimos, como nos relacionamos, como nos
comportamos, como pensamos, e como trabalhamos.
Não há de fato
nenhuma novidade ou invisibilidade nestas formas sempre mais suaves de denominar
o trabalho. A não ser pelo fato de se constituírem como ampliação das formas
geradoras de valor, através do escondimento do valor aparente, subtração do
valor aparente, gerando valor sob a aparência de um não valor, ampliando constantemente
os mecanismos de exploração da força de trabalho.
Sempre em favor da
capital, não há nenhuma forma de cooperação em favor do seu real enfrentamento.
Da mesma forma, o empreendimento é uma falácia perigosa que esconde a
incapacidade do dito “mercado” de incorporar a força de trabalho disponível.
Voluntariado é um ato nobre que nada se parece coma forma como tem sido
pensado. E virtual é apenas um eufemismo que leva para o outro lado da tela
plana as verdadeiras formas de exploração do mundo real.
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