Comumente vemos as
pessoas reclamarem dos políticos, da sua inutilidade, de sua perfídia, e de que
ganham demais. Vivemos em um sistema democrático onde estes sujeitos elegem-se
como representantes de seus eleitores e cabe justamente a todos, cobrar que o
trabalho que eles realizam, em nossos nomes, seja o mais honesto, produtivo e
bem remunerado possível. Ou seja, a democracia é um regime de governo
extremamente oneroso.
Data dos meados do
século 19 a conhecida “Carta do Povo”, um documento entrege pelos operários e
artesãos ingleses ao Parlamento, exigindo vários pontos que viessem a fazer
avançar o seu sistema político. Pediam o voto universal, a igualdade entre os
distritos, o voto secreto, eleições anuais, a equidade da representação, e
vejam só: a remuneração para os membros do parlamento.
É deste tempo a
ideia de que a representação política, em um sistema verdadeiramente
democrático, deveria ser paga. O pagamento aos políticos, representantes do
povo e de seus distritos, significou uma conquista social que perdura até os
dias de hoje. Com isto, a atividade política representativa tornava-se possível
não mais só para os mais abastados, ricos industriais, proprietários de terras,
que podiam sustentar-se com suas rendas, enquanto exerciam atividades
parlamentares. Mas sim também para aqueles que precisavam interromper suas
atividades laborais na artesania e no operariado deixando de receber sua
remuneração pelo trabalho. Isso, em boa medida, equilibrava as forças entre os
mais ricos e os mais pobres, e promovia uma significativa representação
política às classes trabalhadoras.
A democracia é
também um sistema de organização do poder extremamente complexo. Requer
instâncias organizativas muito hierarquizadas em alguns momentos e equalizadas
em outros. Isto a torna um sistema caro, oneroso aos cofres públicos, custoso
do ponto de vista da gestão. Quando clamamos por liberdade, igualdade,
segurança e tanto mais, devemos saber que o único modelo que historicamente
tem-nos apresentado estas qualidades é a democracia. Mas ela tem os seus
defeitos, seu custo, e devemos saber geri-lo e conviver com ele.
Publicado no Jornal Diário de Santa Maria de 24/11/2015