1. Apresente-se: Nome, formação e área de estudo
Meu nome é Guilherme Howes, sou antropólogo, bacharel em Ciências Sociais, licenciado em Sociologia, especialista em História do Brasil, mestre em Ciências Sociais e doutor em Educação. Toda formação pela UFSM. Meus estudos giram em torno da antropologia política, da sociologia do trabalho e das políticas públicas em educação.
2. Como você observa as mudanças de trabalho no decorrer do tempo e adaptação das pessoas a esses cenários?
As mudanças no mundo do trabalho são a expressão mesma das mudanças de uma sociedade centrada (cada vez mais) no trabalho. Tomando o trabalho como o centro da sociabilidade humana, qualquer mudança no mundo do trabalho transforma-se numa mudança da própria sociabilidade humana. A palavra “adaptação” configura-se como um eufemismo para o caráter transformador que o trabalho traz para a vida humana. Desde o evento da Modernidade, os trabalhadores muito mais sujeitam-se ao trabalho do que se adaptam a ele. Desde então até a Contemporaneidade, o trabalho que deveria ser um fim das atividades vitais humanas transformou-se num meio para realização de uma lógica que não é humana, mas a sociabilidade do modo de produção capitalista. Nesta, o centro não é o ser humano e sua humanização, mas o lucro do capital por meio da exploração do trabalho humano, da extração de cada vez mais valor da força de trabalho humana. Sendo assim, as mudanças no trabalho têm se dado no sentido de atender à lógica inumana do capital, desumanizando os trabalhadores.
3. Hoje percebe-se modalidades flexíveis de trabalho, porém com jornadas diárias chegando a 10h/12h. Qual sua percepção sobre essa realidade?
Flexibilização é mais um eufemismo para atenuar a exploração do trabalho humano. Para criar essa atenuação da linguagem e assim parecer menos horrendo do que de fato é, o capital produz seu próprio léxico. Assim, cria termos atenuadores que transformam informalidade em empreendedorismo, a sujeição do trabalho em colaboração - chamando os trabalhadores de colaboradores e precarização em flexibilidade. A flexibilidade, na atual conjuntura, vem acompanhada de perdas salariais, de garantias legais e trabalhistas, de seguridade e sobretudo previdenciárias.
4. Em outros países a escala de trabalho já foi reduzida pensando na produtividade dos seus colaboradores, porém no Brasil ainda nem é uma PEC. Por quais fatores você acredita ainda ser difícil pensar em uma escala reduzida?
É preciso compreender que há uma divisão mundial do trabalho. Para que o coração burguês do capital (leste dos EUA, Europa central e Japão) goze de jornadas reduzidas, a periferia do sistema precisa intensificar a exploração. Por outros termos, para haja fartura na Casa Grande é preciso escassez e chicote na senzala geoglobal periférica. Pertencemos a esta última. Estamos na contramão, na parte pobre e por essa razão partilhamos de migalhas da divisão internacional do trabalho. Desde pelo menos uma década, há um golpe em curso no Brasil, e esse golpe não é contra um partido ou um ou outro político em particular, mas contra a classe trabalhadora, que paga com horas de trabalho, com seu suor, seu sangue e suas lágrimas, seus cérebros, seus nervos e seus músculos pelas horas a menos trabalhadas, pela redução da jornada de trabalho dos países capitalistas centrais.
5. Quais as possíveis consequências sociais e econômicas da redução da escala de trabalho?
A luta pela redução das jornadas de trabalho é uma luta histórica da classe trabalhadora. Reduzir o tempo gasto no trabalho é antes e mais compreender que existe vida além do trabalho. Reduzir jornadas não reduz produtividade. Apenas diminui a exploração do trabalho. Aumentar jornadas de trabalho não aumenta produtividade, apenas aumenta a exploração do trabalho. O que aumenta a produtividade é investimento em tecnologia, a otimização de processos, é a capacitação dos trabalhadores, qualificando-os e inserindo-os nos ganhos da empresa. Reduzir jornadas é compreender que mais tempo para fruição da vida pode até mesmo se refletir em um mercado de consumo mais efervescente e participativo dos próprios trabalhadores. Talvez essas sejam as mais importantes consequências sociais e econômicas da redução da escala de trabalho.
Se existir alguma informação ou discussão a mais que seja interessante para a reportagem, pode mencionar!
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