quinta-feira, 21 de novembro de 2024

O assassinato do deputado Rubens Paiva e a luta de Eunice Paiva contra a ditadura: Ainda estou aqui

 

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Na busca pela verdade, Eunice se formou em Direito na Universidade Mackenzie e se engajou em causas sociais, confrontando, por exemplo, a política indigenista do governo durante os anos 1970.

O mistério do "desaparecimento" de Paiva, porém, só foi resolvido depois do fim da ditadura. Em 1986, numa entrevista à revista "Veja", o psiquiatra Amilcar Lobo, que tinha sido tenente-médico durante o regime, disse que tinha visto o engenheiro quase morto numa sala do quartel na Tijuca. Dias depois, a professora Cecília Viveiros de Castro, uma das mulheres presas ao voltar do Chile, em 1971, contou ao GLOBO que foi levada ao DOI em um carro com Rubens Paiva e viu que ele estava ensanguentado.

Com a aprovação da Lei dos Desaparecidos, em 1996, Eunice finalmente obteve o atestado de óbito do marido, após 25 anos. Em 2014, durante a Comissão Nacional da Verdade, que promoveu a apuração de crimes cometidos por militares da ditadura, uma reportagem do GLOBO baseada em depoimentos de ex-agentes envolvidos revelou que o corpo de Paiva fora enterrado em um terreno baldio no Alto da Boa vista e, dois anos depois, levado à Praia do Recreio dos Bandeirantes, para ser jogado no mar.

Naquele mesmo ano, a Justiça federal acolheu uma ação do Ministério Público Federal e tornou réus cinco ex-agentes acusados de matar o engenheiro e ocultar seu cadáver. Àquela altura, Eunice já vivia numa luta contra os sintomas do mal de Alzheimer. Ativista social, fundadora do Instituto de Antropologia e Meio Ambiente (IAMA), ela morreu em 2018, aos 86 anos, considerada uma heroína para a militância que trabalha, até os dias de hoje, para revelar os abusos da ditadura.