1. Quais são os principais desafios enfrentados por instituições multicampia na coordenação e implementação de ações sindicais, considerando a dispersão geográfica dos seus campi?
As universidades em contexto de multicampia possuem dificuldades muito próprias. Com a expansão do ensino superior dos anos 2000 e 2010 muitas universidades foram criadas nessa configuração. Muitas que já existiam, criaram campi descentralizados ou avançadas (UFRGS, UFSM, FURG por exemplo), o que é um tipo de multicampia, enquanto outras foram criadas já em modo multi campi, a exemplo da Federal da Fronteira sul, con 5 campi e a Unipampa com 10 campi. Foi um modo de atender a demandas políticas e ao mesmo tempo expandir e interiorizar o ensino público e superior.
Essa dispersão geográfica, desde o seu início, trouxe desafios peculiares para a implementação de ações sindicais.
Cada campus acaba atuando como um conjunto independente de faculdades, como pequenas universidades totalmente dispersas umas das outras. A Unipampa não é uma universidade departamentalizada, cada campus é uma unidade com certa autonomia administrativa e financeira.
Cada campus pode ter necessidades específicas devido a contextos regionais distintos, como variações nas condições de trabalho, infraestrutura e questões sociopolíticas locais. Essa diversidade de realidades pode complicar a construção de pautas sindicais unificadas, exigindo uma adaptação flexível às demandas de cada localidade e isso se reflete num enfraquecimento da coesão sindical.
Essa dispersão físico geográfica somada às disparidades das demandas peculiares de cada campus acaba afetando a capacidade de pressão conjunta sobre a administração central.
Diante disso, de conjunto, as ações da Sesunipampa são realizadas por meio virtual, reuniões de diretoria, assembleias e demais funções sindicais. Todos sabemos que as plataformas digitais apresentam limitações, além das desigualdades no acesso em cada campus, variando de acordo com a estrutura de cada um e essas dificuldades trazem consequências no senso de unidade e colaboração tão necessários a um sindicato.
2. Como a diversidade de realidades locais entre os diferentes campi de uma instituição pode impactar a unidade e eficácia das estratégias de mobilização sindical?
Universidades em contexto de multicampia guardam dificuldades muito próprias que dizem respeito aos contextos locais em que se localizam.
No caso da Unipampa essa dificuldade é extrema: são três campi em municípios que fazem fronteira com a Argentina e sete campi que fazem fronteira com o Uruguai. A distância entre os campi mais distantes um do outro é de quase mil quilômetros. O Campus de São Borja, na Fronteira Oeste do estado habita a realidade socioeconômica dos municípios das Missões e do Noroeste do estado. O campus de Jaguarão, no extremo sul do estado, tem outra realidade sócio-econômica. Entre eles, outros campi, nas regiões sul e oeste do estado, enfrentam também suas próprias realidades. Em geral, são campi localizados em municípios com forte economia rural, agropecuária extensiva, monocultura e agronegócio.
Em certa medida, cada campus (o perfil de seus professores, técnicos, alunos e comunidade universitária) acaba refletindo um pouco a mentalidade sócio econômica de cada lugar e as estratégias de mobilização sindical também essas características. Como são regiões dominadas culturalmente pelo individualismo da economia estancieira e monocultora as atividades sindicais são vistas como movimentos desabonadores para os que se mobilizam e esse estado de coisas acaba inibindo toda a atividade coletiva e sindical.
3. De que maneira as instituições de fronteira, situadas em áreas geograficamente isoladas, enfrentam dificuldades adicionais na articulação com sindicatos e movimentos nacionais?
Aqui aparecem duas coisas distintas mas interligadas e que causam prejuízos imensos à organização sindical e acadêmica: o insulamento (interno) e o isolamento (nacional). Não só estamos completamente afastados uns dos outros como estamos isolados do resto do país. As dificuldades não são apenas sindicais, mas acadêmicas também. É extremamente difícil organizar eventos, trazer convidados não só de fora do estado como também do próprio RS. Os campi localizados em municípios que recebem voos tem aeroportos precaríssimos, com poucas e instáveis linhas. A dificuldade também ocorre no sentido rodoviário. Das estradas que dão acesso aos municípios da Unipampa, nenhuma delas é duplicada, são rodovias precárias, pessimamente preservadas, muito afetadas pelo transporte de carga que escoa desses municípios. Não há qualquer balança de controle de peso das cargas de madeira, gado, grãos e outras commodities.
Nesse sentido, campi localizados em lugares inacessíveis acabam insulados, o que inviabiliza o intercâmbio interno, e isolados do cenário nacional, tanto em sentido sindical quanto mais ainda em sentido da organização sindical.
4. Quais são os obstáculos enfrentados por sindicatos de instituições multicampia na comunicação e no engajamento de servidores e estudantes espalhados por diferentes localidades?
Para além de todas as dificuldades de que tratamos até aqui, somam-se os obstáculos enfrentados pelos sindicatos localizados em instituições multicampi na comunicação e no engajamento de servidores e estudantes espalhados por diferentes localidades.
O sindicato do técnicos administrativos da Unipampa, o Sindipampa, está atualmente inativo. Já foi um sindicato ativo e combativo e hoje encontra-se totalmente desarticulado. É claro que não são apenas razões internas, nessa desarticulação implicam causas muito mais amplas como a despolitização da categoria, a desestruturação da carreira e a precariedade da estrutura da instituição. Mas a desarticulação é flagrante.
As assembleias da Sesunipampa são muito sinalizadoras dessa desarticulação: dos 10 campi, raramente consegue-se participação de mais da metade dos campi. Numa Universidade em que a despolitização impera sobre docentes e taes, não é de estranhar que a despolitização atinja também os discentes. Os alunos têm vínculo bastante efêmero com a instituição, permanecem nela por poucos anos. A organização dessa categoria efêmera, temporária, em contexto de insulamento e isolamento é muito mais difícil ainda. Há campi que sequer possuem diretórios acadêmicos dos cursos de graduação. As tecnologias digitais ajudam a mitigar essas limitações, no entanto, são insuficientes para proporcionar uma organização robusta, de conjunto, com pautas centralizadoras e um engajamento significativo.
5. Como a experiência sindical da Sesunipampa, atuando num contexto de multicampia e fronteira, pode contribuir para o debate do movimento sindical?
Recentemente, o Andes Sindicato Nacional criou um grupo de trabalho para debater multicampia: é o GT Multicampia e Fronteira. Isso é indicativo de que o tema está no centro das discussões da Nacional e o quanto esse tema se tornou importante. Nós, aqui da Unipampa, ainda estamos em fase de organização dos debates. As tarefas são muitas e os que efetivamente se implicam com elas são poucos. Por essa razão, ainda levaremos um certo tempo para levar nossas apreciações e experiências a respeito dessa realidade que muito nos constitui.
6. Quais estratégias podem ser adotadas para superar as barreiras impostas pela distância e pelas particularidades regionais nas campanhas sindicais de instituições multicampia e de fronteira?
No âmbito da Sesunipampa, temos realizado anualmente caravanas que visitam presencialmente os campi promovendo discussões sobre temas pertinentes à categoria com um todo, debatendo questões particulares de cada contexto e promovendo campanhas de sindicalização. Há também um esforço coletivo em nível de diretoria buscando sindicalizar ao menos um docente em cada campus. Fazendo isso, a Seção busca contar com a presença de todos os campi nas campanhas, nas assembleias e na representatividade da categoria.
Para além disso, é preciso entender que essa questão das barreiras impostas pela multicampia é muito mais ampla. Isso impacta toda a Universidade e obviamente impacta também o sindicato que organiza-se politicamente dentro dela.
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