O que nos ensina Marx?
Nos ensina a duvidar
Nos ensina a pesquisar
De que é feita a essência
Oculta sob a aparência
E de que é feito o concreto
Nos mostra o jeito correto
De como fazer ciência
Mas o que é a aparência?
É a expressão de um fenômeno
Apenas o prolegômeno
De algo bem mais profundo
É como aparece o mundo
Olhando à primeira vista
A realidade antevista
Por um processo fecundo
Que mais... Marx ensina?
Que o ser humano é central
E isso é ser radical
Além de emancipador
É algo libertador
Em um sentido profundo
E este é o pano de fundo
De um mundo devastador
E por que é devastador?
Porque é um mundo desumano
Radicalmente mundano
Que reifica o trabalhador
É um processo esmagador
Que mortifica o trabalho
Transforma num rebotalho
O que em verdade é valor
Mas o que é esse valor?
É o que vem do trabalho
Como uma gota de orvalho
Do suor do proletariado
Do esforço em tempo contado
Que nunca para um minuto
Restando disso um produto
Que sempre nos foi tomado
E por que nos é tomado?
Porque nos falta consciência
Não nos falta competência
Quem sabe organização
Talvez conscientização
Que é sempre um primeiro passo
Quando se busca o compasso
Rumo à revolução
Mas o que é revolução?
Transformação como tal
Subverter o capital
Num mundo onde a riqueza
Não seja só um privilégio
Não pareça um sortilégio
Ou coisa da natureza
E o que é o capital?
Que não é coisa, é processo
Concentração em excesso
De valor que se expropria
Produção de mais valia
De valor na mão de poucos
Mas irão chamar de loucos
Quem luta pela alforria
E por que chamam de loucos?
Quem desse mundo discorda
Quem desse mundo se acorda
Sem conhecer os cantões
Ou as determinações
Que o faz ser o que é
Mas nós sabemos por que é
Que ocorrem revoluções
Se esse mundo aparente
Revelasse sua essência
Não faltaria consciência
À classe trabalhadora
A realidade enganadora
Que a abstração nos revela
E que o concreto é uma tela
De aparência tentadora
Mas se toda aparência
Revelasse sua essência
Não precisaria de ciência
Pra sua elucidação
Bastava observação
Da realidade hipotética
Por isso é que a dialética
É a forma da exposição
Todo começo é difícil
Em toda e qualquer ciência
Pois despertar a consciência
E a lucidez que refuta
A mais valia absoluta
Do submundo burguês
É a faina do Galo Gaulês
Nos convocando pra luta
E como faremos isso?
Há um método que nos orienta?
O mesmo que impacienta
E nos empurra pra frente
Nos guia materialmente
No longo curso da história
De forma contraditória
E dialeticamente
Mas o que é contradição?
Nem sempre é contraditório
É um vasta de um repertório
Que pressupõe dois momentos
Reunindo os dois eventos
A um só tempo num só
E esse é o quiproquó
Negação e complemento
Mas é fácil compreendê-la
Não é uma teoria esma
É a realidade mesma
Transposta para o papel
É como um verso em cordel
Que vai costurando o mundo
Mostrando a cada segundo
Que a vida não é ouropel
Mas não é somente isso
Que ensina o Velho Barbudo
Também não ensina tudo
Pois é impossível fazê-lo
Desenrolar o novelo
Das teorias marxistas
É obra dos socialistas
Para a qual não tem modelo
Por isso tudo é que Marx
Não é só um autor correto
A dialética do concreto
É a arma do proletário
Farol em tempo brumário
Lamparina em noite escura
A explicação mais madura
Do viés revolucionário
Por isso é que ensino Marx
O mais humano mestres
O mais mítico terrestre
O mais mourisco urutago
Que provocou mais estragos
Na muralha liberal
O Terror do Capital
O mais vermelho dos magos
Só digo mais uma coisa
Sobre esse velho renano
Que ensinou que o ser humano
É o centro mesmo da vida
E disso ninguém duvida
Pois contra um sistema exangue
Se nas veias tiver sangue
A revolução te convida