domingo, 6 de fevereiro de 2022

Considerações sobre a entrevista de Jones Manoel à Globo News. Por Regis Marat

Régis Marat: Jones Manoel é uma das maiores surpresas que surgiu na esquerda brasileira nos últimos tempos, porém suas teses e suas ideias nao são nada surpreendentes. Na entrevista citada  concordamos com o rapaz que o racismo é constitutivo e é insuperável a partir da lógica do capital. Porém, o jovem comunista, na mesma entrevista,  reproduz as teses do velho PCB como no caso do seu stalinismo requentado ou o politicismo da jovem esquerda não marxista, como por exemplo a vazia e abstrata tese da frente de esquerda. No primeiro exemplo, ele propõe um socialismo que contemple as “particularidades”, como se existisse um socialismo que não as contemplasse, é a mesma aberração do PSOL que propugna um socialismo com liberdade, como se existisse um socialismo sem liberdade. Aliás, tanto Jones quanto o PSOL se referem a monstruosidade do Leste Europeu; para o primeiro faltou apenas incluir as minorias, já para o partido do Boulos e cia, faltou apenas uma pitada de liberdade no socialismo realmente existente. 

No que diz respeito a frente de esquerda, o jovem comunista adota a velha tese do PCB que entendia essa questão como um aglomerado de partidos e organizações que se autointitulam no mesmo campo, sem considerar ou desconhecendo que uma frente dessa natureza deve ocorrer em torno um programa econômico alternativo que possa unificar essas agremiações ou personificações que representem a mesma perspectiva, e não apenas a justaposição de organizações políticas de esquerda. 

Voluntarista e politicista, Jones ainda tem como referência a falácia do stalinismo ou sua versão mais degradada que é o maoismo, ambas ideologias fracassadas e produto da barbárie do capital coletivo não social que emergiu do malogro da Revolução Russa de 1917 e da Revolução Chinesa de 1949. Jones, ao pensar no socialismo vasculha o lixão da história e recicla o passado como alternativa para o presente, se esquecendo da velha tese marxiana que diz que devemos arrancar poesia do futuro. 

Em um texto no Blog da Boitempo, o jovem comunista do PCB, numa clara defesa do obreirismo e do anti-intelectualismo que caracteriza a esquerda brasileira em geral,  acusou Chasin, Meszaros e Lukacs de serem teoricistas, esquecendo-se o mancebo comunista que o rigor teórico intelectual entre nós não é uma opção. Se esses autores citados por Jones são teoricistas pelo rigor que imprimem em suas análises, fico  imaginando o que ele não diria de Marx quando escreveu o capital!!!

Jones é herdeiro do marxismo epistemológizante althusseriano que imputa elementos estranhos ao pensamento de Marx  provenientes do campo da psicanálise, principalmente do irracionalismo lacaniano. Isso sem contar o esquartejamento epistemológico que Althusser faz de Marx com seu anti-humanismo que tem como fonte o pensador alemão Heidegger, filósofo declaradamente nazista.

Se o jovem e promissor Jones Manoel vem chamando a atenção da  grande mídia é porque no campo da verdadeira esquerda não é grande coisa. Mas penso que como todo grande marxista, Jones ainda tem chance de perceber que as proposições teóricas marxianas são proposições ontológicas e não gnosio-epistemicas como quer  a maioria dos marxistas. Assim O jovem Jones Manoel poderá organizar a cabeça pelo mundo e não o mundo pela cabeça como vem fazendo are aqui.


Regis Marat


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