1.
Como o sindicato entende que estão as condições
do trabalho docente neste retorno do semestre letivo?
Parece-me que o sindicato está atento e sensível à
precariedade do trabalho docente que este quarto semestre em modalidade de
Ensino Remoto Emergencial tem proporcionado. Nos aproximamos de quase dois anos
sem contato (ao menos físico e direto) com o local de trabalho (campus, salas
de aula, salas de professores), com os alunos (as turmas, grupos de pesquisa) e
mesmo com a vida acadêmica mais cotidiana (extensão, eventos, ensino). Toda essa
virtualidade do trabalho e do convívio traz para o trabalho docente (com
consequências para a esfera pessoal de todas e todos) uma série de consequências
ainda não possíveis de serem mensuradas. Provavelmente, em um futuro breve, pesquisas
apontem o quanto todo esse processo tenha sido deletério para as carreiras e as
vidas mesmo de professoras e professores. Diante disso, o retorno às atividades
letivas deve estar centrado no acolhimento e na atenção às dimensões anímica e
psicológica, não só dos discentes, TAEs, como também dos docentes e seu
trabalho pedagógico. Os protocolos e as formalidades importam, obviamente, em
especial quando se trata do serviço público, mas a dimensão humana de cada
docente, em meio a tempos tão sombrios, creio ser a principal preocupação do
sindicato neste retorno do semestre letivo. E as condições de trabalho
proporcionadas pela Instituição (com significativas diferenças em cada Campus),
nesse momento, não parecem orbitar em torno dessa preocupação.
2.
Como o sindicato compreende que deveria ser
feito o retorno e por que ainda não é o momento para isso?
O retorno às atividades em modalidade presencial é um desejo
de toda a categoria, em especial por parte daqueles comprometidos com uma
universidade pública, universal e de qualidade. A política sanitária do governo
federal, temerária e incompetente, foi um flagrante impeditivo para um retorno
mais imediato e eficiente. Ao prevaricar de suas prerrogativas, o Governo
Federal fez com que as consequências da pandemia se estendessem e
recrudescessem. Ao fazê-lo tornou-se o responsável direto pelo problema que
agora exime-se de resolver. Os últimos cortes orçamentários nas áreas da
ciência e tecnologia são a denúncia dessa irresponsabilidade do Ministério da
Educação. A hora é de investimento e não de cortes de verbas para a área da
educação. O retorno às atividades presenciais não prescinde investimentos em
estrutura, condições sanitárias, serviços, agora tão mais necessários diante do
ainda indefinido quadro pandêmico brasileiro. Essa é a razão pela qual ainda
não é o momento para uma volta à normalidade. Se a fizéssemos de imediato,
poríamos em risco não somente a vida de toda a comunidade acadêmica como também
a vida dos nossos familiares.
3.
Qual avaliação do sindicato sobre orçamento da
Unipampa e projeções de manutenção da universidade para o ano que vem?
Não tenho conhecimento dos números exatos a respeito do
orçamento da Unipampa. No entanto, um quadro geral aponta para um verdadeiro “colapso”
orçamentário (https://www.brasildefato.com.br/2021/09/16/orcamento-de-universidades-federais-nao-repoe-perdas-e-reitores-temem-colapso-veja-numeros)
ao sequer repor as perdas que as IFES vêm sofrendo nos últimos anos: na
Unipampa não é diferente! Vale ainda notar que o “recurso previsto para o ano
que vem é 15,3% menor do que o de 2019; volta das aulas presenciais deixará
custos em aberto”. Diante desse quadro apontado na matéria supracitada resta a
compreensão de que não são exatamente as tão propaladas “condições sanitárias”
que impedem ou retardam a volta ao presencial, muito menos a sugerida
indolência dos docentes, como sugere líder do governo na Câmara dos Deputados
ao dizer que "só professor não quer trabalhar na pandemia" (https://educacao.uol.com.br/noticias/2021/04/20/ricardo-barros-governo-critica-professores.htm),
mas efetivamente o custo financeiro das universidades com as portas abertas e
funcionando a pleno. Em síntese, a volta ao presencial seria de fato, a
necessária denúncia do estrangulamento por que passa o ensino público superior
brasileiro.
4.
Por favor, me diga seu nome, curso e campus que
leciona, para citação na matéria.
Guilherme Howes, professor de Teoria Social e Ciência
Política no Campus Sant’Ana do Livramento