segunda-feira, 15 de novembro de 2021

Entrevista para matéria da SESUNIPAMPA sobre o retorno presencial

 

1.       Como o sindicato entende que estão as condições do trabalho docente neste retorno do semestre letivo?

Parece-me que o sindicato está atento e sensível à precariedade do trabalho docente que este quarto semestre em modalidade de Ensino Remoto Emergencial tem proporcionado. Nos aproximamos de quase dois anos sem contato (ao menos físico e direto) com o local de trabalho (campus, salas de aula, salas de professores), com os alunos (as turmas, grupos de pesquisa) e mesmo com a vida acadêmica mais cotidiana (extensão, eventos, ensino). Toda essa virtualidade do trabalho e do convívio traz para o trabalho docente (com consequências para a esfera pessoal de todas e todos) uma série de consequências ainda não possíveis de serem mensuradas. Provavelmente, em um futuro breve, pesquisas apontem o quanto todo esse processo tenha sido deletério para as carreiras e as vidas mesmo de professoras e professores. Diante disso, o retorno às atividades letivas deve estar centrado no acolhimento e na atenção às dimensões anímica e psicológica, não só dos discentes, TAEs, como também dos docentes e seu trabalho pedagógico. Os protocolos e as formalidades importam, obviamente, em especial quando se trata do serviço público, mas a dimensão humana de cada docente, em meio a tempos tão sombrios, creio ser a principal preocupação do sindicato neste retorno do semestre letivo. E as condições de trabalho proporcionadas pela Instituição (com significativas diferenças em cada Campus), nesse momento, não parecem orbitar em torno dessa preocupação.

2.       Como o sindicato compreende que deveria ser feito o retorno e por que ainda não é o momento para isso?

O retorno às atividades em modalidade presencial é um desejo de toda a categoria, em especial por parte daqueles comprometidos com uma universidade pública, universal e de qualidade. A política sanitária do governo federal, temerária e incompetente, foi um flagrante impeditivo para um retorno mais imediato e eficiente. Ao prevaricar de suas prerrogativas, o Governo Federal fez com que as consequências da pandemia se estendessem e recrudescessem. Ao fazê-lo tornou-se o responsável direto pelo problema que agora exime-se de resolver. Os últimos cortes orçamentários nas áreas da ciência e tecnologia são a denúncia dessa irresponsabilidade do Ministério da Educação. A hora é de investimento e não de cortes de verbas para a área da educação. O retorno às atividades presenciais não prescinde investimentos em estrutura, condições sanitárias, serviços, agora tão mais necessários diante do ainda indefinido quadro pandêmico brasileiro. Essa é a razão pela qual ainda não é o momento para uma volta à normalidade. Se a fizéssemos de imediato, poríamos em risco não somente a vida de toda a comunidade acadêmica como também a vida dos nossos familiares.

3.       Qual avaliação do sindicato sobre orçamento da Unipampa e projeções de manutenção da universidade para o ano que vem?

Não tenho conhecimento dos números exatos a respeito do orçamento da Unipampa. No entanto, um quadro geral aponta para um verdadeiro “colapso” orçamentário (https://www.brasildefato.com.br/2021/09/16/orcamento-de-universidades-federais-nao-repoe-perdas-e-reitores-temem-colapso-veja-numeros) ao sequer repor as perdas que as IFES vêm sofrendo nos últimos anos: na Unipampa não é diferente! Vale ainda notar que o “recurso previsto para o ano que vem é 15,3% menor do que o de 2019; volta das aulas presenciais deixará custos em aberto”. Diante desse quadro apontado na matéria supracitada resta a compreensão de que não são exatamente as tão propaladas “condições sanitárias” que impedem ou retardam a volta ao presencial, muito menos a sugerida indolência dos docentes, como sugere líder do governo na Câmara dos Deputados ao dizer que "só professor não quer trabalhar na pandemia" (https://educacao.uol.com.br/noticias/2021/04/20/ricardo-barros-governo-critica-professores.htm), mas efetivamente o custo financeiro das universidades com as portas abertas e funcionando a pleno. Em síntese, a volta ao presencial seria de fato, a necessária denúncia do estrangulamento por que passa o ensino público superior brasileiro.

4.       Por favor, me diga seu nome, curso e campus que leciona, para citação na matéria.

Guilherme Howes, professor de Teoria Social e Ciência Política no Campus Sant’Ana do Livramento