segunda-feira, 5 de abril de 2021

Sindicatos, formalismo e burocracia: a síndrome de Monty Python

 Reflexões ao assistir a uma reunião do sindicato

Sinceramente, não acredito que as pessoas não percebam o quanto inútil é tanto formalismo

Por mais preciso que o texto resulte, ele é estéril, inócuo

Não importa o nome do gato... o nome dele pode ser peixe, o importante é que ele cace ratos!

Pautas óbvias, clichês discutidos como se fossem questões centrais

Nenhuma proposta ativa, de ir às ruas, de ação efetiva. Nenhuma força ativa, apenas gente querendo cotejar o texto para que ele reste tão redondinho quanto sem função prática

Pra mim está sendo um grande laboratório e uma grande surpresa. Sou antropólogo, preciso vivenciar as coisas para aprender sobre elas. E estou aprendendo muito.

Depois de tantas horas gastas na redação de um texto simples, tanta energia depositada em divergências formais, realmente entendo que não reste ânimo para luta efetiva.

Estou verificando na prática aquilo que o Ricardo Antunes escreve reiteradamente em suas intervenções.

Da forma como os sindicatos estão se organizando não restará nem mesmo um esboço do que é preciso para enfrentar a direita que está no poder e impregnada na sociedade civil

Repito a metáfora, estamos agindo rigorosamente da mesma forma ironizada pelo Monty Python no final do anos 1970


Gastar dias inteiros discutindo a forma de um texto é a atividade mais exangue que já assisti nos últimos anos, só comparável às reuniões do Partido que também tenho acompanhado

No fim, resto com sentimento de espanto e decepção, de positivo, apanho apenas a compreensão de que a esquerda está tão sem rumo devido à sua própria incapacidade de se organizar, de ser propositiva, de ter se tornado tão burocrática, tão formalista, tão inócua, sem tática ou estratégia.

Alguém ficar empolgado depois de uma reunião dessas é uma impossibilidade, não há como sentir ânimo para lutar assistindo ou participando esse tipo de debate

Quem espera-se sensibilizar com tudo isso?

Só alguém mais burocrata e formalista que a gente mesmo

Que tipos de avanços efetivos no campo político espera-se fazer com textos como esses?

Que tipo de conquistas se alcança depois de reuniões como essas?

Sempre acreditei que o "coração" da esquerda, seu dínamo, eram os partidos e os sindicatos

A usina da luta política, a partir de uma visada leninista de organização, estavam a cargo desses dois instrumentos

Começo a perceber as razões por que estamos no fundo do poço, perdidos, à deriva


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